Lendo e entendendo os livros apócrifos
Os livros apócrifos tinham seu valor
religioso definido, porém jamais foram delimitadores da fé, doutrina e conduta
cristãs, diferentemente dos escritos inspirados e dotados da autoridade divina.
As igrejas Protestantes seguem
basicamente o cânon judaico, e conferem pouco valor aos livros deuterocanônicos,
dessa forma, negam a canonicidade dos
livros apócrifos. Pelo fato de não
serem considerados como inspirados por Deus, Lutero citado por Bentzen, define os apócrifos
como: “Livros que não podem ser tidos como iguais aos livros da Sagrada
Escritura, mas que não obstante são bons e úteis para se ler” ( BENTZEN, 1968,
p30). Jerônimo (séc. V d.C.), foi mais radical ao dizer que os livros apócrifos
são o excesso da Septuaginta em comparação com as Escrituras Hebraicas, e não
deveriam ser usados como fonte de qualquer doutrina cristã. Enfim, são livros de boa leitura, mas de modo algum
inspirados, deve-se ter cuidado ao lê-los, além de bom conhecimento teológico
para se examinar as suas heresias, evitando assim tomá-los por fonte de
qualquer doutrina.
Resumo dos livros apócrifos:
Livro de Enoque e Testamento de Salomão
Livro de Enoque (ou Enoque etíope)
Depois
de alguns dias, meu filho Matusalém escolheu uma mulher para seu filho Lamech;
ela engravidou e deu à luz um menino. O seu corpo era branco como a neve e
vermelho como uma rosa, os cabelos da sua cabeça eram como a lã e os seus olhos
como os raios do sol. Quando abriu os olhos encheu a casa de luz como o sol, e
toda ela ficou muito iluminada (I En 106,1).
Elas
[as mulheres humanas] engravidaram e deram à luz a gigantes de 3.000 côvados de
altura. Estes consumiram todas as provisões de alimentos dos demais homens. E
quando as pessoas nada mais tinham para dar-lhes os gigantes voltaram-se contra
elas e começaram a devorá-las (I En 6,2).
Após ouvirem o
clamor dos homens e virem todas as desgraças causadas pelos anjos
rebeldes, Miguel, Uriel, Rafael e Gabriel relatam o
problema ao “Senhor dos mundos”, que decide purificar a terra com um dilúvio e
punir os anjos perversos lançando-os num abismo de fogo.
O livro é fruto
de uma tentativa de preencher uma lacuna existente no capítulo seis do livro do
Gênesis:
“viram
os filhos de Deus (hb. bney haelohim) que as filhas dos homens eram
formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram” (Gn 6,2).
Testamento de Salomão
O Testamento de Salomão faz
uma importante afirmação: o templo de Jerusalém foi construído pelos demônios!
Os demônios eram vencidos por dois gestos mágicos: um anel mágico, colocado no
peito do endemoninhado, e um conjuro. Quanto ao anel mágico ele tinha uma pedra
preciosa com, gravada nela, uma fórmula mágica, diferente segundo os vários
manuscritos: - “AAAAA”, 5 alfas, maiúsculas e entrelaçadas entre elas formando
um círculo.” - as seguintes letras: “k o
th r s b i o n k a o a o e l i g o i s s g o a a e s r o u r †.”3 - uma
inscrição, que dizia assim: “Senhor Deus nosso, leão, leão; sabaoth; bionik;
aoá, eloí; ioasé, sugeoá; aié; aenioú; ou; ounioú; eró.” - “Toma cera virgem,
constrõe um anel e coloca-o no dedo anular de tua mão. Cerca-o de pergaminho
virgem e escreve, com todo estremo cuidado estes doze nomes: leão, sabaoth,
bioniá, eloí, aoá, iaó, iasú, sueioá, aenií, u, uníou; iú; iro” - “Do grande
rei Salomão: lthlthi, 40.000, Senhor Deus nosso: lião, sabaot, aiaó, bioniká,
oaleoí; ioasé, sugeó; aaié; ae; niufiune, iaeso.” Após o anel ser colocado no
peito da pessoa endemoninhada, o exorcista conjurava o demônio com estas
palavras: “Vai, Salomão te chama!”. E o demônio vinha correndo a Salomão e se
submetia ao poder do rei.
Os demônios conhecidos desfilavam diante de Salomão, impotentes, submetidos e obrigados a revelar como seu poder podia ser anulado. E eram todos condenados a trabalhar na construção do templo.
Os demônios
dominados por Salomão:
- Beelzebul: príncipe
dos demônios, que se comprometeu em trazer a Salomão os demais demônios (3);
- Onoscelis: espírito
feminino que pode unir-se aos homens: condenada a trançar as cordas que servem
para a construção do templo (4);
- Asmodeo: procura
fazer o mal aos homens, sobretudo os recém-casados: deverá carregar ferro e
fazer massa (5). O anjo contrário é Rafael. O poder dele se anula
queimando fígado de peixe com fel e um ramo de bálsamo (cf. Tb 6-8);
- Lix Tetrax: este
demónio rompe muros, queima tudo o que pode, provoca febres. O anjo que o anula
é Azael. É condenado a carregar pedras (7);
- Sete demônios femininos: Engano,
Disputa, Clotó, Zale, Delírio, Força, Péssima: são príncipes das trevas,
cada um provocando os homens à divisão, conflitos, mentiras, mortes. Foram
mandados a cavar os alicerces do templo (8);
- Assassinato: demónio
sem cabeça, que no desejo de ter uma, corta as dos homens, as coloca em si, mas
acaba consumindo-as pelo fogo que há nele, e que produz úlceras. O anjo do
relámpago o anula (9);
- Bastón: o diabo com
aspecto de cachorro: domina os homen pela garganta e os reduz a estupidez.
Ele é condenado a cortar mármore para o templo e traz a Salomão uma pedra verde
para adornar o altar. O anjo contrário é o Grande Briateo (10);
- O Portador de Liões: comanda uma legião de demônios, e provoca enfermidades nos homens. É anulado pelo Paciente, cujo nome é Emanuel. Foi condenado a trazer lenha, cortá- la e jogá-lo no forno sempre ardente (11);
- O Portador de Liões: comanda uma legião de demônios, e provoca enfermidades nos homens. É anulado pelo Paciente, cujo nome é Emanuel. Foi condenado a trazer lenha, cortá- la e jogá-lo no forno sempre ardente (11);
- O Dragão Tricéfalo:
espírito tríplice que faz cegos e mudos os fetos das mulheres e derruba os
homens fazendo-os espumar e ranger os dentes. Seu anjo contrário é o anjo do
Grão Conselho. Também vai trabalhar no templo (12);
Grão Conselho. Também vai trabalhar no templo (12);
- Obizut: espírito
feminino que mata os fetos. Seu anjo contrário é Rafael. Foi amarrada
pelos cabelos diante do templo e condenada a louvar a Deus (14);
- O Dragão Alado:
engravida as mulheres e joga fogo. Seu anjo contrário é Bezazat. Vai
serrar mármore para o templo (14);
- Enépsigos: demónio
das artes mágicas, seu anjo contrário é Ratanael. Ele profetiza o futuro
de Salomão (15);
- Cinópego: espírito
marino que inferniza os barcos, provocando náusea e morte. Anjo contrário é Lamet.
Foi fechado numa caçarola (16);
- O Espírito do Gigante:
fica nos cemitérios e impede a passagem dos homens pelo lugar. É exorcizado
pelo Salvador que vai vir ao mundo, e pelo sinal da cruz na testa (17);
- os 36 Decanos: são
espíritos astrais, das trevas do mundo. Influem na vida e nas enfermidades dos
homens. Sua condenação será transportar água para o templo (18);
- Efippas: demônio do
vento da Arábia, que sopra de manhã até o meio-dia, e cuja força é enorme. Será
anulado pelo Anjo que vai nascer da Virgem, adorado pelos anjos e
crucificado pelos judeus (22, 20). Colocou a pedra angular até o topo do ângulo
do templo;
- Abezetibú: o demônio do
Mar Vermelho que combateu contra Moisés no Egito e endureceu o coração do
Faraó. Também ficou submergido pelas águas do mar. É condenado a embelezar o
templo (25). Toda esta lista de demônios é para mostrar, às gerações futuras,
como neutralizar o poder dos maus espíritos nas pessoas humanas. É um verdadeiro
tratado de demonologia prática, com evidentes influências da mitologia grega
(cap. 4, 15, 16), da tradição judaica, que por sua vez se refaz a fontes
babilônicas e persas (cap. 5), à tradição egípcia (cap. 18), e da tradição
cristã (cap. 3, 6,11).
Formação da cânon do Antigo testamento.
Deus ia revelando sua palavra e o Espírito Santo movendo seus profetas; nenhum
deles tinha em mente como seu “capítulo” iria se encaixar no plano global do
Senhor. A Inspiração de Deus dotou os 39 livros que compõem o Velho
Testamento de autoridade divina. O Reconhecimento por parte do povo de Deus
é percebido nos escritos de Moisés, Josué
(Js. 24:26), Samuel (1 Sm. 10:25) e Jeremias (Dn. 9:2). Este reconhecimento
seria confirmado pelos crentes do Novo Testamento e também por Jesus (Aula 3).
Quanto a coleção e preservação pelo povo de Deus podemos citar que os
escritos de Moisés foram colocados na arca (Dt. 31:26); as palavras de Samuel
foram colocadas num livro e o pôs perante o Senhor (1 Sm. 10:25); Daniel tinha
uma coleção da lei de Moisés e dos profetas (Dn. 9:2; 6:13) e os crentes do
Novo Testamento tinham toda escritura do Velho Testamento (2 Tm. 3:16), tanto a
Lei como os Profetas (Mt. 5:17). Além disso, nem todos os livros são citados em
livros posteriores, porém há evidências suficientes para se provar que existia
uma coleção progressiva dos escritos considerados divinos e dotados de
autoridade e inspiração.
Durante a coleção dos escritos proféticos, houve uma continuidade dos
eventos e profecias narradas pelos seus autores. A continuidade profética se
estabeleceu com a criação de uma escola de profetas dirigida por Samuel (1 Sm.
19:20). Desta escola sairiam vários livros que cobririam a história do povo de
Israel e Judá no período dos reis e profetas. É provável que os escritos
proféticos tenham tomado a forma dos livros dos Reis. Desta forma, a
continuidade profética a partir de Moisés, Josué e Samuel se completaria com as
obras de Jeremias.
Durante o exílio, Daniel e Ezequiel continuaram o ministério profético. Depois
do exílio, Esdras voltou da Babilônia levando consigo os livros de Moisés e dos
profetas (Ed. 6:18 – Ne. 9:14,26-30). Crônicas está ligado a Esdras-Neemias
pela repetição do último versículo de um, como o primeiro versículo do outro. Com
Neemias completa-se a cronologia profética. Cada profeta, desde Moisés até
Neemias contribuiu para a crescente coleção de livros, que foi preservada pela
comunidade dos profetas a partir de Samuel.
Houve um tempo que a Revelação de Deus era transmitida de forma oral,
não escrita. Adão trouxe a história da criação através de 390 anos e contou-a a
Lameque, e assim sucessivamente até o tempo de Moisés. Sete homens trouxeram a
revelação desde a criação, até que a bíblia começou a ser escrita. O ensino
oral, era o meio de se comunicar a Revelação divina durante o período
compreendido desde a criação do homem até o dia em que o próprio Deus ordenou a
Moisés que, registrasse de forma escrita suas mensagens, em tábuas, no Monte
Sinai, para que ficassem desta forma registradas para a posteridade.
O Antigo Testamento foi escrito em duas línguas: O Hebraico e o
Aramaico.
Champlin afirma que “o processo de canonização de qualquer coleção de
livros sagrados, é um processo histórico que necessita de vários séculos para
ser completado”(CHAMPLIN, 1995, p625). O cânon do Antigo Testamento foi
elaborado em três etapas distintas: A primeira seção – a Lei, a segunda seção –
os Profetas e a terceira seção – os Hagiográficos. A Lei (Torá), ou Pentateuco
é de fato a primeira seção a ser escrita e considerada canônica. Não se sabe
qual a época precisa em que chegou a ter a forma atual, e os estudiosos
divergem a respeito. Os Samaritanos sustentam a data de 722 a.C., os críticos
porém, negam esta idade. Alguns estudiosos afirmam que ocorreu na época de
Esdras e Neemias e que a leitura da Lei feita por Esdras (Nee 8:3) foi fator
definitivo para a canonização. Os samaritamos tem o mesmo Pentateuco e o
consideram literatura sacra. A segunda seção e formada pelos escritos chamados
de Profetas Antigos ( Josué, Juizes, Samuel e Reis ), os Profetas Posteriores (
Isaías, Ezequiel e Jeremias ) e os doze
Profetas Menores ( considerados como um só livro). Os escritos hagiográficos (
Salmos, Provérbios, Jó, Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester,
Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas ) foram o último grupo de livros a serem
aceitos como sagrados em um todo.
Flávio Josefo (cerca de 100 d.C.) e as citações em o Novo Testamento (Lc
24:44, Mt 23:35) indicam que no tempo de Jesus e de seus Apóstolos o cânon do
Antigo Testamento já continha as três seções concluídas como as conhecemos
hoje, sendo que na Bíblia Hebraica o Antigo Testamento conta de 24 livros, ou
de 22 caso se una Rute com Juizes e Lamentações com Jeremias, trata-se dos
mesmos 39 livros do cânon Protestante.
A data da conclusão do cânon vetero-testamentário é incerta, alguns afirmam ser ele completo na época da conclusão da versão dos setenta, a Septuaginta, outros informam que ele deu-se somente com a realização do concílio de Jamnia. Portanto, pode-se considerar o cânon hebraico terminado entre os anos de 100 a.C. e 100 d.C.
A data da conclusão do cânon vetero-testamentário é incerta, alguns afirmam ser ele completo na época da conclusão da versão dos setenta, a Septuaginta, outros informam que ele deu-se somente com a realização do concílio de Jamnia. Portanto, pode-se considerar o cânon hebraico terminado entre os anos de 100 a.C. e 100 d.C.
Conhecimento da igreja contemporânea
sobre a formação do Cânon bíblico do Antigo
Testamento
Seria importante que a igreja contemporânea tivesse
conhecimento da formação do Cânon Bíblico do Antigo Testamento, mas fazer esta
afirmação é um erro, pois não há um interesse genuíno pela Palavra de Deus.
Hoje em dia, do ponto de vista econômico, não é atraente se aprofundar no
conhecimento das Escrituras, até porque se busca o conhecimento na área que vai
dar retorno financeiro e se pensarmos
direitinho conhecer o Cânon pode não ser lucrativo.
Então, o conhecimento da igreja contemporânea é
mínimo, exceto aquela parcela menor que está preocupada com as almas e que
precisa de todo conhecimento bíblico para respaldar as suas argumentações e com
isto convencer aqueles que resistem e tentam anular a autoridade da Bíblia ou,
até mesmo, nivela-la a um livro de romance sem fundo espiritual.
Há de se pensar que a igreja contemporânea, nestes
últimos dias, deveria se aproximar cada vez mais das Escrituras, pois estamos
vivendo a última hora. Algumas pessoas tentam anular a veracidade da Bíblia até
citando a questão da criação da imprensa por volta do séc XVIII, mas não tem
conhecimento da transmissão oral muito praticada entre os antigos do mundo todo
e que os homens antigos viviam tempo suficiente para passar as informações para
várias gerações e isto era estimulado conforme a própria Bíblia registra.
Enfim, a formação em Teologia abre uma dimensão de
conhecimento que nos prepara para responder e ensinar as verdades bíblicas
tanto do ponto de vista Eclesiástico quanto Histórico. Com isto, precisamos
conscientizar as nossas igrejas sobre a Formação do Cânon do Antigo e Novo
Testamento e reafirmar que o homem escreveu as Escrituras, mas o autor é o
próprio Espírito Santo de Deus.
Reginaldo Silva de Lyra
- O desenvolvimento do cânon do Antigo Testamento http://www.milhoranza.com/2009/09/08/desenvolvimento-canon-antigo-testamento/#ixzz4IPLYmj1d
- http://www.oocities.org/ib7d/jb7/estudos_canonizacao.html
- http://comandomaior.blogspot.com.br/2011/04/o-livro-apocrifo-enoque.html
- http://www.fbb.br/media/Publica%C3%A7%C3%B5es/Maieutica/3%20-%20Luidi3%20final.pdf

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