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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Formação do Cânon do AT- CRISTIANISMO EM AÇÃO

Lendo e entendendo os livros apócrifos

Os livros apócrifos tinham seu valor religioso definido, porém jamais foram delimitadores da fé, doutrina e conduta cristãs, diferentemente dos escritos inspirados e dotados da autoridade divina. As igrejas Protestantes seguem basicamente o cânon judaico, e conferem pouco valor aos livros deuterocanônicos, dessa forma,  negam a canonicidade dos livros apócrifos. Pelo fato de   não serem considerados como inspirados por Deus,  Lutero citado por Bentzen, define os apócrifos como: “Livros que não podem ser tidos como iguais aos livros da Sagrada Escritura, mas que não obstante são bons e úteis para se ler” ( BENTZEN, 1968, p30). Jerônimo (séc. V d.C.), foi mais radical ao dizer que os livros apócrifos são o excesso da Septuaginta em comparação com as Escrituras Hebraicas, e não deveriam ser usados como fonte de qualquer doutrina cristã. Enfim,  são livros de boa leitura, mas de modo algum inspirados, deve-se ter cuidado ao lê-los, além de bom conhecimento teológico para se examinar as suas heresias, evitando assim tomá-los por fonte de qualquer doutrina.


Resumo dos livros apócrifos:
Livro de Enoque e Testamento de Salomão

Livro de Enoque (ou Enoque etíope)

  Abaixo um trecho do livro que descreve o nascimento de Noé:

Depois de alguns dias, meu filho Matusalém escolheu uma mulher para seu filho Lamech; ela engravidou e deu à luz um menino. O seu corpo era branco como a neve e vermelho como uma rosa, os cabelos da sua cabeça eram como a lã e os seus olhos como os raios do sol. Quando abriu os olhos encheu a casa de luz como o sol, e toda ela ficou muito iluminada (I En 106,1).

 Os capítulos 6 a 16  narram a queda dos anjos após desobedecerem a Deus acasalando-se com as mulheres humanas. O anjo Semjaza relata seu desejo aos demais anjos, que decidem segui-lo no plano. Semjasa é acompanhado por mais dezoito anjos, que por sua vez chefiam, cada um, outros dez. Após levarem a cabo o plano, problemas inusitados começam a surgir:

Elas [as mulheres humanas] engravidaram e deram à luz a gigantes de 3.000 côvados de altura. Estes consumiram todas as provisões de alimentos dos demais homens. E quando as pessoas nada mais tinham para dar-lhes os gigantes voltaram-se contra elas e começaram a devorá-las (I En 6,2).

 Os anjos rebeldes transmitem seus conhecimentos aos homens, tais como a astrologia, a metalurgia, a ciência da confecção de cosméticos, as fases da lua, a feitiçaria, etc. Tais conhecimentos causam muitas guerras e o homem chega perto da aniquilação.

Após ouvirem o clamor dos homens e virem todas as desgraças causadas pelos anjos rebeldes, Miguel, Uriel, Rafael e Gabriel relatam o problema ao “Senhor dos mundos”, que decide purificar a terra com um dilúvio e punir os anjos perversos lançando-os num abismo de fogo.

O livro é fruto de uma tentativa de preencher uma lacuna existente no capítulo seis do livro do Gênesis:

“viram os filhos de Deus (hb. bney haelohim) que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram” (Gn 6,2).

 No relato do livro de Enoque os bney haelohim (filhos de Deus) são os anjos e a decisão de Deus de destruir a terra (Gn 6,7) é provocada por esse episódio.

 Resquícios da história contada neste livro são percebidos na epístola de Judas (Jd 14, s).

   

Testamento de Salomão

 Salomão estava construindo o templo de Jerusalém. Um jovem capataz era continuamente atormentado por um demônio que lhe tomava metade do seu salário. O Rei pediu a Deus por ele, e recebeu de Deus, por intermédio de Miguel, um anel mágico, com o qual dominou o demônio. Depois, convoca Beelzebul, príncipe dos demônios, pede-lhe para se sentar junto dele, obrigando-o a trazer-lhe, atados, todos os demônios, que ele subjuga, constrangendo-os a revelar-lhe como cada um pode ser dominado e, enfim, mandando-os todos a trabalhar para ele na construção do templo.

O Testamento de Salomão faz uma importante afirmação: o templo de Jerusalém foi construído pelos demônios! Os demônios eram vencidos por dois gestos mágicos: um anel mágico, colocado no peito do endemoninhado, e um conjuro. Quanto ao anel mágico ele tinha uma pedra preciosa com, gravada nela, uma fórmula mágica, diferente segundo os vários manuscritos: - “AAAAA”, 5 alfas, maiúsculas e entrelaçadas entre elas formando um círculo.”  - as seguintes letras: “k o th r s b i o n k a o a o e l i g o i s s g o a a e s r o u r †.”3 - uma inscrição, que dizia assim: “Senhor Deus nosso, leão, leão; sabaoth; bionik; aoá, eloí; ioasé, sugeoá; aié; aenioú; ou; ounioú; eró.” - “Toma cera virgem, constrõe um anel e coloca-o no dedo anular de tua mão. Cerca-o de pergaminho virgem e escreve, com todo estremo cuidado estes doze nomes: leão, sabaoth, bioniá, eloí, aoá, iaó, iasú, sueioá, aenií, u, uníou; iú; iro” - “Do grande rei Salomão: lthlthi, 40.000, Senhor Deus nosso: lião, sabaot, aiaó, bioniká, oaleoí; ioasé, sugeó; aaié; ae; niufiune, iaeso.” Após o anel ser colocado no peito da pessoa endemoninhada, o exorcista conjurava o demônio com estas palavras: “Vai, Salomão te chama!”. E o demônio vinha correndo a Salomão e se submetia ao poder do rei.

Os demônios conhecidos desfilavam diante de Salomão, impotentes, submetidos e obrigados a revelar como seu poder podia ser anulado. E eram todos condenados a trabalhar na construção do templo.

Os demônios dominados por Salomão:

  - Ornías: o demônio que molestava o jovem capataz, roubando a metade do seu salário. Salomão o faz trabalhar na construção do templo. É anulado pelo arcanjo Uriel (1-2);

- Beelzebul: príncipe dos demônios, que se comprometeu em trazer a Salomão os demais demônios (3);

- Onoscelis: espírito feminino que pode unir-se aos homens: condenada a trançar as cordas que servem para a construção do templo (4);

- Asmodeo: procura fazer o mal aos homens, sobretudo os recém-casados: deverá carregar ferro e fazer massa (5). O anjo contrário é Rafael. O poder dele se anula queimando fígado de peixe com fel e um ramo de bálsamo (cf. Tb 6-8);

- Lix Tetrax: este demónio rompe muros, queima tudo o que pode, provoca febres. O anjo que o anula é Azael. É condenado a carregar pedras (7);

- Sete demônios femininos: Engano, Disputa, Clotó, Zale, Delírio, Força, Péssima: são príncipes das trevas, cada um provocando os homens à divisão, conflitos, mentiras, mortes. Foram mandados a cavar os alicerces do templo (8);

- Assassinato: demónio sem cabeça, que no desejo de ter uma, corta as dos homens, as coloca em si, mas acaba consumindo-as pelo fogo que há nele, e que produz úlceras. O anjo do relámpago o anula (9);

- Bastón: o diabo com aspecto de cachorro: domina os homen pela garganta e os reduz a estupidez. Ele é condenado a cortar mármore para o templo e traz a Salomão uma pedra verde para adornar o altar. O anjo contrário é o Grande Briateo (10);
- O Portador de Liões: comanda uma legião de demônios, e provoca enfermidades nos homens. É anulado pelo Paciente, cujo nome é Emanuel. Foi condenado a trazer lenha, cortá- la e jogá-lo no forno sempre ardente (11);

- O Dragão Tricéfalo: espírito tríplice que faz cegos e mudos os fetos das mulheres e derruba os homens fazendo-os espumar e ranger os dentes. Seu anjo contrário é o anjo do
Grão Conselho. Também vai trabalhar no templo (12);

- Obizut: espírito feminino que mata os fetos. Seu anjo contrário é Rafael. Foi amarrada pelos cabelos diante do templo e condenada a louvar a Deus (14);

- O Dragão Alado: engravida as mulheres e joga fogo. Seu anjo contrário é Bezazat. Vai serrar mármore para o templo (14);

- Enépsigos: demónio das artes mágicas, seu anjo contrário é Ratanael. Ele profetiza o futuro de Salomão (15);

- Cinópego: espírito marino que inferniza os barcos, provocando náusea e morte. Anjo contrário é Lamet. Foi fechado numa caçarola (16);

- O Espírito do Gigante: fica nos cemitérios e impede a passagem dos homens pelo lugar. É exorcizado pelo Salvador que vai vir ao mundo, e pelo sinal da cruz na testa (17);

- os 36 Decanos: são espíritos astrais, das trevas do mundo. Influem na vida e nas enfermidades dos homens. Sua condenação será transportar água para o templo (18);

- Efippas: demônio do vento da Arábia, que sopra de manhã até o meio-dia, e cuja força é enorme. Será anulado pelo Anjo que vai nascer da Virgem, adorado pelos anjos e crucificado pelos judeus (22, 20). Colocou a pedra angular até o topo do ângulo do templo;

- Abezetibú: o demônio do Mar Vermelho que combateu contra Moisés no Egito e endureceu o coração do Faraó. Também ficou submergido pelas águas do mar. É condenado a embelezar o templo (25). Toda esta lista de demônios é para mostrar, às gerações futuras, como neutralizar o poder dos maus espíritos nas pessoas humanas. É um verdadeiro tratado de demonologia prática, com evidentes influências da mitologia grega (cap. 4, 15, 16), da tradição judaica, que por sua vez se refaz a fontes babilônicas e persas (cap. 5), à tradição egípcia (cap. 18), e da tradição cristã (cap. 3, 6,11).

  

Formação da cânon do Antigo testamento.

Deus ia revelando sua palavra e o Espírito Santo movendo seus profetas; nenhum deles tinha em mente como seu “capítulo” iria se encaixar no plano global do Senhor. A Inspiração de Deus dotou os 39 livros que compõem o Velho Testamento de autoridade divina. O Reconhecimento por parte do povo de Deus é percebido nos escritos de  Moisés, Josué (Js. 24:26), Samuel (1 Sm. 10:25) e Jeremias (Dn. 9:2). Este reconhecimento seria confirmado pelos crentes do Novo Testamento e também por Jesus (Aula 3). Quanto a coleção e preservação pelo povo de Deus podemos citar que os escritos de Moisés foram colocados na arca (Dt. 31:26); as palavras de Samuel foram colocadas num livro e o pôs perante o Senhor (1 Sm. 10:25); Daniel tinha uma coleção da lei de Moisés e dos profetas (Dn. 9:2; 6:13) e os crentes do Novo Testamento tinham toda escritura do Velho Testamento (2 Tm. 3:16), tanto a Lei como os Profetas (Mt. 5:17). Além disso, nem todos os livros são citados em livros posteriores, porém há evidências suficientes para se provar que existia uma coleção progressiva dos escritos considerados divinos e dotados de autoridade e inspiração.

Durante a coleção dos escritos proféticos, houve uma continuidade dos eventos e profecias narradas pelos seus autores. A continuidade profética se estabeleceu com a criação de uma escola de profetas dirigida por Samuel (1 Sm. 19:20). Desta escola sairiam vários livros que cobririam a história do povo de Israel e Judá no período dos reis e profetas. É provável que os escritos proféticos tenham tomado a forma dos livros dos Reis. Desta forma, a continuidade profética a partir de Moisés, Josué e Samuel se completaria com as obras de Jeremias.

Durante o exílio, Daniel e Ezequiel continuaram o ministério profético. Depois do exílio, Esdras voltou da Babilônia levando consigo os livros de Moisés e dos profetas (Ed. 6:18 – Ne. 9:14,26-30). Crônicas está ligado a Esdras-Neemias pela repetição do último versículo de um, como o primeiro versículo do outro. Com Neemias completa-se a cronologia profética. Cada profeta, desde Moisés até Neemias contribuiu para a crescente coleção de livros, que foi preservada pela comunidade dos profetas a partir de Samuel.

Houve um tempo que a Revelação de Deus era transmitida de forma oral, não escrita. Adão trouxe a história da criação através de 390 anos e contou-a a Lameque, e assim sucessivamente até o tempo de Moisés. Sete homens trouxeram a revelação desde a criação, até que a bíblia começou a ser escrita. O ensino oral, era o meio de se comunicar a Revelação divina durante o período compreendido desde a criação do homem até o dia em que o próprio Deus ordenou a Moisés que, registrasse de forma escrita suas mensagens, em tábuas, no Monte Sinai, para que ficassem desta forma registradas para a posteridade.

O Antigo Testamento foi escrito em duas línguas: O Hebraico e o Aramaico.

Champlin afirma que “o processo de canonização de qualquer coleção de livros sagrados, é um processo histórico que necessita de vários séculos para ser completado”(CHAMPLIN, 1995, p625). O cânon do Antigo Testamento foi elaborado em três etapas distintas: A primeira seção – a Lei, a segunda seção – os Profetas e a terceira seção – os Hagiográficos. A Lei (Torá), ou Pentateuco é de fato a primeira seção a ser escrita e considerada canônica. Não se sabe qual a época precisa em que chegou a ter a forma atual, e os estudiosos divergem a respeito. Os Samaritanos sustentam a data de 722 a.C., os críticos porém, negam esta idade. Alguns estudiosos afirmam que ocorreu na época de Esdras e Neemias e que a leitura da Lei feita por Esdras (Nee 8:3) foi fator definitivo para a canonização. Os samaritamos tem o mesmo Pentateuco e o consideram literatura sacra. A segunda seção e formada pelos escritos chamados de Profetas Antigos ( Josué, Juizes, Samuel e Reis ), os Profetas Posteriores (  Isaías, Ezequiel e Jeremias ) e os doze Profetas Menores ( considerados como um só livro). Os escritos hagiográficos ( Salmos, Provérbios, Jó, Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester, Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas ) foram o último grupo de livros a serem aceitos como sagrados em um todo.

Flávio Josefo (cerca de 100 d.C.) e as citações em o Novo Testamento (Lc 24:44, Mt 23:35) indicam que no tempo de Jesus e de seus Apóstolos o cânon do Antigo Testamento já continha as três seções concluídas como as conhecemos hoje, sendo que na Bíblia Hebraica o Antigo Testamento conta de 24 livros, ou de 22 caso se una Rute com Juizes e Lamentações com Jeremias, trata-se dos mesmos 39 livros do cânon Protestante.
A data da conclusão do cânon vetero-testamentário é incerta, alguns afirmam ser ele completo na época da conclusão da versão dos setenta, a Septuaginta, outros informam que ele deu-se somente com a realização do concílio de Jamnia. Portanto, pode-se considerar o cânon hebraico terminado entre os anos de 100 a.C. e 100 d.C.




Conhecimento da igreja contemporânea
sobre a formação do Cânon bíblico do Antigo Testamento

Seria importante que a igreja contemporânea tivesse conhecimento da formação do Cânon Bíblico do Antigo Testamento, mas fazer esta afirmação é um erro, pois não há um interesse genuíno pela Palavra de Deus. Hoje em dia, do ponto de vista econômico, não é atraente se aprofundar no conhecimento das Escrituras, até porque se busca o conhecimento na área que vai dar retorno financeiro e se  pensarmos direitinho conhecer o Cânon pode não ser lucrativo.

Então, o conhecimento da igreja contemporânea é mínimo, exceto aquela parcela menor que está preocupada com as almas e que precisa de todo conhecimento bíblico para respaldar as suas argumentações e com isto convencer aqueles que resistem e tentam anular a autoridade da Bíblia ou, até mesmo, nivela-la a um livro de romance sem fundo espiritual.

Há de se pensar que a igreja contemporânea, nestes últimos dias, deveria se aproximar cada vez mais das Escrituras, pois estamos vivendo a última hora. Algumas pessoas tentam anular a veracidade da Bíblia até citando a questão da criação da imprensa por volta do séc XVIII, mas não tem conhecimento da transmissão oral muito praticada entre os antigos do mundo todo e que os homens antigos viviam tempo suficiente para passar as informações para várias gerações e isto era estimulado conforme a própria Bíblia registra.

Enfim, a formação em Teologia abre uma dimensão de conhecimento que nos prepara para responder e ensinar as verdades bíblicas tanto do ponto de vista Eclesiástico quanto Histórico. Com isto, precisamos conscientizar as nossas igrejas sobre a Formação do Cânon do Antigo e Novo Testamento e reafirmar que o homem escreveu as Escrituras, mas o autor é o próprio Espírito Santo de Deus.

 Reginaldo Silva de Lyra



- O desenvolvimento do cânon do Antigo Testamento http://www.milhoranza.com/2009/09/08/desenvolvimento-canon-antigo-testamento/#ixzz4IPLYmj1d
 http://www.oocities.org/ib7d/jb7/estudos_canonizacao.html

- http://comandomaior.blogspot.com.br/2011/04/o-livro-apocrifo-enoque.html
- http://www.fbb.br/media/Publica%C3%A7%C3%B5es/Maieutica/3%20-%20Luidi3%20final.pdf

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