TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
2- TERAPIA COMPORTAMENTAL
2.1 HISTÓRICO
Sabemos que antes do Behaviorismo existir, muitas outras escolas de Psicologia o antecederam, e outras surgiram a partir dele, como a Psicologia Experimental, a Psicologia de Wilhelm Wundt, o Estruturalismo (sistema da Psicologia de E. B Titchener, que considerava a experiência consciente como dependente das pessoas que a vivenciava), o Funcionalismo (sistema de Psicologia que se dedicou ao funcionamento da mente na adaptação do organismo ao ambiente tendo como precursor William James), posteriormente o Behaviorismo (ciência do comportamento concebida por Watson tratando somente do comportamento passível de observação e descrição em termos objetivos), a Psicologia da Gestalt (sistema de Psicologia que se dedica amplamente à aprendizagem e à percepção, sugerindo que a combinação dos elementos sensoriais produz novos padrões com propriedades que eram inexistentes nos elementos individuais), a Psicanálise (teoria de Sigmund Freud sobre a personalidade e o sistema de psicoterapia) que juntamente com o Behaviorismo, incentivaram o surgimento de diversas subdivisões dentro de cada escola.
Na década de 50, a Psicologia Humanista (sistema de Psicologia que enfatiza o estudo da experiência consciente e a integridade da natureza humana) incorporando os princípios da Psicologia da Gestalt desenvolveu uma reação contra o Behaviorismo e a Psicanálise.
Em 1960, a Psicologia Cognitiva (sistema de Psicologia que se concentra nos processos de aquisição do conhecimento, mais especificamente, na forma de organização das experiências da mente) desafiou o Behaviorismo a rever o conceito de Psicologia, porque seu foco principal seria o retorno aos estudos dos processos conscientes.
E posteriormente surgiram a Psicologia Evolucionista, a Neurociência Cognitiva e a Psicologia Positiva. Nesse tópico nos restringiremos ao Behaviorismo, chamada atualmente de Psicologia Comportamental.
De acordo com Schultz & Schultz (2005) muitos nomes marcaram a história da Psicologia e suas escolas:
→ No Estruturalismo temos nomes como Wundt, Stumpf, Kulpe, Titchener, Brentano, Ebbinghaus.
→ No Funcionalismo temos James, Dewey, Munsterberg, Angell, Carr, Hall, Cattell, Witmer, Scott, Woodworth.
→ Na Psicanálise figuras como Freud, Jung, Adler, Horney se destacaram.
→ No Behaviorismo temos Thorndike, Pavlov, Watson, Hull, Bekhterev, Lashley, Tolman, Skinner, Rotter, Bandura.
→ Na Psicologia da Gestalt se destacaram Wertheimer, Koffka, Kohler e Lewin.
→ Na Psicologia Humanista temos Maslow e Rogers.
→ Na Psicologia Cognitiva, Miller e Neisser.
→ Na Psicologia Positiva, Seligman.
Tudo começou quando, no ano de 1913, foi marcada uma espécie de declaração de guerra, com o surgimento de um movimento de protesto cuja intenção era dilacerar as visões antigas, buscando uma ruptura com ambas as posições, seus líderes não desejavam modificar o passado, muito menos manter alguma relação com ele, esse movimento revolucionário foi chamado de Behaviorismo e foi promovido pelo psicólogo B. Watson, com 35 anos de idade (Figura 1).
Como já citamos, o Estruturalismo e o Funcionalismo desempenharam papéis importantes, só que foram suplantadas por três escolas, o Behaviorismo, a Psicologia da Gestalt e a Psicanálise.
Segundo Atkinson (2002), das três, a que teve maior influência na América do Norte foi o Behaviorismo, que acreditava que para a Psicologia ser uma ciência, os dados psicológicos deveriam estar abertos ao exame público como os dados de qualquer outra ciência.
Além disso, essa teoria defendia o comportamento como público e a consciência como privada, assim a ciência deveria tratar apenas dos fatos públicos. Uma vez que os psicólogos estavam ficando impacientes com a introspecção, um novo Behaviorismo foi rapidamente aceito.
Schultz & Schultz (2005) afirmam que as premissas básicas de Watson eram simples, diretas e ousadas, buscando uma Psicologia científica que lidasse exclusivamente com os atos comportamentais observáveis e passíveis de descrição objetiva, por exemplo, em termos de estímulos e respostas.
Watson rejeitava qualquer termo ou conceito mentalista, na sua visão palavras como imagem, sensação, mente e consciência, que eram adotadas desde antes da filosofia mentalista, não significavam absolutamente nada para a ciência do comportamento.
Ele afirmava ainda que ninguém jamais tinha tocado, visto, cheirado, experimentado ou transferido de um lugar a outro a consciência, sendo sua definição tão improvável como o conceito de alma. Deve-se ficar claro que não foi Watson que deu origem às ideias básicas do movimento Behaviorista, elas já vinham sendo desenvolvidas há algum tempo tanto na Psicologia como na biologia.
Como qualquer outro fundador, o que Watson fez foi organizar e promover as ideias e as questões já aceitáveis para o Zeitgeist intelectual da época, assim ele destacou questões como:
- A tradição filosófica objetivista e mecanicista;
- A Psicologia animal;
- A Psicologia funcional.
Dessa forma, Watson começou a trabalhar com questões que focassem apenas algo que fosse visível, audível ou palpável. Para entendermos melhor as ideias de Watson faremos um breve balanço de como surgiram algumas ciências.
Encontramos em Baum (1999) a definição de Behaviorismo como um conjunto de ideias sobre o comportamento, não como uma ciência, mas como uma filosofia da ciência.
Esse conceito fica mais bem entendido quando percebemos que houve um rompimento de várias ciências com a filosofia, todas começaram seus estudos com a filosofia e posteriormente se separaram. Uma ruptura de ciências como a astronomia, física, química, biologia com a filosofia, ciência da qual se originaram, sendo que com a Psicologia não foi diferente.
Os psicólogos da época acreditavam que seguindo os métodos objetivos que eram verificáveis e replicáveis em laboratórios, a Psicologia poderia transformar-se numa verdadeira ciência.
Em 1913, Watson articulou a crescente insatisfação dos psicólogos com a introspecção e a analogia como métodos. Ele defendia que a Psicologia deveria ser definida como ciência do comportamento e não como ciência da consciência.
Dessa forma, evitar os termos relacionados com consciência e mente deixaria a Psicologia livre para estudar o comportamento humano e social. Ele contestou bastante o antropocentrismo.
Para Watson, o caminho era fazer da Psicologia uma ciência geral do comportamento, que compreendesse todas as espécies, e que estudaria apenas o comportamento objetivamente observável e deixaria de lado a subjetividade da introspecção e as analogias entre homem e animal.
Com a ciência do comportamento veio a noção de que o comportamento é determinado unicamente pela hereditariedade e pelo ambiente. Em contrapartida a essa tese temos o livre-arbítrio, que é a capacidade de escolha, e supõe um terceiro elemento além da hereditariedade e do ambiente, que ele diz ser algo que vem de dentro do indivíduo. O livre-arbítrio afirma que a escolha não é uma ilusão, pois são as próprias pessoas que causam o comportamento.
De acordo com Baum (1999), alguns filósofos tentaram conciliar determinismo com livre-arbítrio e propuseram para o livre-arbítrio teorias chamadas de “determinismo brando” e “teorias compatibilizadoras”. A primeira deixa implícita que o livre-arbítrio é apenas uma experiência, uma ilusão, e não uma relação causal entre pessoa e ação; já a segunda define livre-arbítrio como deliberação antes da ação, isto é, comportamento que pode ser determinado pela hereditariedade e pelo ambiente passado.
A Psicologia comparativa teve origem na ideia de fazer comparações entre espécies a fim de conhecer melhor a nossa própria. Passou-se a fazer comparações entre homem e animal para descobrir seus mecanismos, até mesmo suas formas de pensar e agir.
Essa Psicologia teve grande influência no estudo do Behaviorismo. A seguir, citaremos alguns pontos marcantes. Jacques Loeb acreditava na reação direta e automática do animal a um estímulo.
Para ele, não há qualquer explicação em termos de definição consciente do animal referente à reação comportamental forçada pelo estímulo, o que existe é o movimento forçado involuntário, que, segundo sua teoria, era chamado de tropismo.
Thorndike, um dos principais pesquisadores para o desenvolvimento da Psicologia animal, elaborou uma teoria de aprendizagem objetiva e mecanicista com enfoque no comportamento manifesto.
Ele também acreditava que o psicólogo devia estudar o comportamento, não os elementos mentais ou a experiência consciente, não interpretando a aprendizagem do ponto de vista subjetivo, mas em termos de conexões concretas entre estímulos e a resposta, embora não admitisse qualquer referência à consciência e aos processos mentais.
Ele criou algumas teorias como a do “conexionismo”, que era baseada nas conexões entre as situações e as respostas, a aprendizagem por tentativa e erro, que era baseada na repetição das tendências de respostas que levam ao êxito, que posteriormente ele definiu como “lei do efeito”, em que os atos que produzem satisfação em determinada situação tornam-se associados a ela, quando a situação se repete, o ato tende a ocorrer.
Outra teoria seria a “lei do uso e desuso” ou “lei do exercício”, em que afirmava que quanto mais um comportamento é realizado em uma situação, mais forte se torna a associação entre comportamento e situação.
Ivan Pavlov estudou os reflexos condicionados, que seriam reflexos dependentes na formação entre o estímulo e a resposta.
Seus estudos foram feitos por meio de um aparelho utilizando cães que estudava a resposta da salivação.
Todos esses estudiosos importantes influenciaram Watson e seus estudos sobre o comportamento, fortalecendo desde o início sua intenção de fundar uma escola, onde ele desejava que o novo Behaviorismo tivesse valor prático e aplicável na vida real.
Para Watson quase todo comportamento é resultado de condicionamento e que o ambiente molda o comportamento reforçando hábitos específicos.
Essa escola tendia a discutir os fenômenos psicológicos em termos de estímulos e respostas, dando origem ao termo Psicologia de estímulo-resposta (E-R). De acordo Schultz & Schultz (2005), instinto era conceituado por Watson como respostas condicionadas socialmente e emoções não passavam de uma simples resposta fisiológica a estímulos específicos.
Embora o Behaviorismo houvesse chamado a atenção dos psicólogos americanos, nem todos concordavam com a visão de Watson. Alguns psicólogos desenvolveram sua própria Psicologia Behaviorista, conduzindo a escola de pensamento em direções distintas.
A carreira produtiva de Watson na Psicologia durou pouco menos de 20 anos, mesmo assim, afetou profundamente o curso do desenvolvimento da Psicologia por muito tempo.
Watson foi um eficaz agente do Zeitgeist, em uma época de mudanças não apenas na Psicologia, como também nas atitudes científicas em geral, ele tornou a metodologia e a terminologia da Psicologia mais objetiva, embora hoje suas formulações não sejam mais válidas.
O Behaviorismo de Watson constituiu o primeiro estágio da evolução da escola de pensamento comportamental aproximadamente em 1913. Mas não parou por aí! De 1930 a 1960, surge o NeoBehaviorismo, englobando os trabalhos de Tolman, Hull e Skinner.
Esses estudiosos tinham como tópico central da Psicologia o estudo da aprendizagem, os comportamentos podem ser entendidos por leis de condicionamentos e o operacionismo.
E o terceiro estágio da evolução Behaviorista, que vai de 1960 e perdura até hoje, chamado de neoneoBehaviorismo ou socioBehaviorismo, incluindo trabalhos de Bandura e Rotter, que enfocam o retorno do estudo dos processos cognitivos, mas mantendo a abordagem na observação do comportamento manifesto.
Edward Tolman foi um dos primeiros convertidos ao Behaviorismo e criou o termo Behaviorismo Intencional, que combina o estudo objetivo do comportamento com a ponderação da intenção ou a orientação do propósito no comportamento. Seu principal enfoque, segundo Schultz & Schultz (2005), estava no problema de aprendizagem.
Tolman rejeitou a lei do efeito de Thorndike, afirmando que a recompensa ou o esforço exerciam pouca influência sobre a aprendizagem, e em seu lugar propunha uma explicação cognitiva para a aprendizagem, sugerindo que a repetição do desempenho de uma tarefa reforça a relação aprendida entre as dicas ambientais e as expectativas do organismo, dessa forma, o organismo acaba conhecendo seu ambiente, afirmando serem essas relações estabelecidas pela repetição da realização de uma tarefa.
Já Clark Hull usava uma forma de Behaviorismo mais sofisticada e mais complexa que Watson, embora ainda fosse considerado como objetivo, reducionista e mecanicista.
Descrevia seu Behaviorismo e sua visão de natureza humana empregando termos mecanicistas e considerava o comportamento humano automático e possível de ser reduzido e explicado na linguagem da física. Sua teoria da aprendizagem concentra-se no princípio de reforço, a qual é essencialmente a lei do efeito de Thorndike.
Segundo Schultz & Schultz (2005), o Behaviorismo de Skinner dedicava-se ao estudo das respostas, preocupando-se em descrever e não em explicar o comportamento, sua pesquisa tratava apenas do comportamento observável, e ele acreditava que a tarefa de investigação científica era estabelecer as relações funcionais entre as condições de estímulos controladas pelo pesquisador e as respostas subsequentes do organismo.
Skinner não duvidava da existência das condições mentais ou fisiológicas internas, apenas não aceitava sua validade no estudo científico do comportamento. Em seus experimentos, Skinner conceituou condicionamento operante como uma situação de aprendizagem que envolve o comportamento emitido por um organismo em vez de eliciado por um estímulo detectável. Esse comportamento ocorre sem qualquer estímulo antecedente externo observável.
Skinner também criou a lei da aquisição, em que a força de um comportamento operante aumenta quando, em seguida, recebe um estímulo reforçador. No terceiro estágio da evolução behaviorista chamado de neoneoBehaviorismo ou socioBehaviorismo, Bandura, Rotter e outros seguidores adotavam uma forma de Behaviorismo bem mais distinta que a de Skinner.
Eles questionavam sua total negação aos processos mentais ou cognitivos e propunham em seu lugar uma aprendizagem social, uma reflexão sobre um movimento cognitivo mais amplo na Psicologia como um todo.
Estes teóricos defendiam os pensamentos (cognições), o que fez com que fosse criada uma divisão no Behaviorismo: nascendo a Psicologia cognitiva. Outros autores desta escola são: Albert Bandura, Julian Rotter e Aaron Beck. Eles acreditavam que o comportamento pode ser entendido também a partir da cognição, e que o aprendizado pode existir sem a necessidade de condicionamento em laboratório, mas pela observação e elaboração do que foi visualizado.
Bandura desenvolveu termos como Reforço Vicário (noção de que o aprendizado pode ocorrer por observação do comportamento de outras pessoas e das consequências decorrentes, e não apenas experimentando o reforço diretamente) e Autoeficácia (a percepção do indivíduo de sua autoestima e a competência em lidar com os problemas da vida).
Rotter desenvolveu uma forma de Behaviorismo que, como a de Bandura, inclui referência às experiências subjetivas internas, sendo menos radical que o de Skinner. Rotter concentrou sua pesquisa nas crenças a respeito da origem do reforço.
Ele acreditava num Locus de controle (a ideia sobre a origem do reforçamento, havendo o lócus de controle interno – crença de que o reforço depende do próprio comportamento das pessoas e Locus de controle externo – reforço depende das forças externas).
Segundo Schultz & Schultz (2005), apesar do debate interno a respeito da questão cognitiva no Behaviorismo ter provocado mudanças no movimento behaviorista, que se seguiram desde Watson até Skinner, é importante lembrar que Bandura, Rotter e outros neoneobehavioristas que são defensores da abordagem cognitiva ainda se consideram behavioristas.
Assim, eles podem ser chamados de behavioristas metodológicos, porque se referem aos processos cognitivos internos como parte do objeto de estudo da Psicologia, enquanto os behavioristas radicais acreditam que a disciplina devia se dedicar ao estudo do comportamento público e do estímulo ambiental, e não dos estudos internos presumidos.
Skinner até admitiu que sua abordagem estivesse perdendo terreno e que o impacto da abordagem cognitiva aumentava. E, hoje, o Behaviorismo que permanece vivo na Psicologia contemporânea, principalmente na Psicologia aplicada, é diferente daquele que surgiu nas décadas entre o manifesto de Watson, em 1913, e a morte de Skinner, em 1990.
Hoje, muitos autores conceituam como uma abordagem que trabalha os problemas psicológicos baseada na filosofia da ciência conhecida como Behaviorismo Radical e na ciência do comportamento, Análise Experimental do Comportamento.
O Behaviorismo radical, muito trabalhado atualmente por alguns terapeutas, defende que o comportamento dos organismos é ordenado, passível de ser estudado cientificamente na mesma forma das ciências naturais, assim busca-se descobrir os eventos no ambiente que determinam os seus comportamentos-problema e os que os mantêm. Na terapia comportamental, pensamentos e sentimentos são considerados comportamentos, diferentes apenas pela forma como se pode ter acesso a eles, pois este se dá por meio do relato verbal daquele que pensa e sente, ou seja, pensamentos e sentimentos também são levados em consideração, analisados e passíveis das intervenções do terapeuta.
Cada terapeuta, de acordo com sua abordagem segue uma linha, mas com o mesmo objetivo, ou seja, melhora e bem-estar do seu paciente, no caso do terapeuta comportamental, ele entende que o cliente é único e seus problemas ou dificuldades são produto de uma história particular. Com isso, percebe-se uma humanização do processo psicoterápico, buscando assim, entender cada cliente e cada história, antes de propor qualquer intervenção.
Seu principal instrumento é a análise funcional, ou o levantamento criterioso das variáveis – eventos, acontecimentos – que estejam funcionalmente relacionados com os comportamentos desejáveis e indesejáveis do cliente. Com esse entendimento, é possível propor uma estratégia eficaz no alcance do bem-estar e da melhora do paciente, mas que fique claro que, na maioria das vezes, não é fácil se chegar a essas variáveis. De acordo com Saffi, Savoia e Lotufo (2008), a terapia comportamental utiliza na clínica os conhecimentos derivados das teorias da aprendizagem, sua principal fonte teórica é o comportamento operante.
Diz-se muito que se trata de uma terapia superficial e que aborda apenas o sintoma, mas isso não é verdade, ela pode ser aplicada a toda gama de problemas humanos, tanto para o autoconhecimento como para as dificuldades e conflitos interpessoais. Só que é uma abordagem que exige conhecimento teórico e técnico sofisticado e o terapeuta deve possuir empatia, interesse pelo paciente e calor humano.
O terapeuta comportamental busca combater os comportamentos-problema, ao mesmo tempo em que busca instalar e aumentar a frequência de comportamentos adequados ao contexto, desejáveis, funcionais e geradores de satisfação e felicidade. O clínico, entre outras funções, auxilia com suas análises na construção de um novo repertório ou no fortalecimento do repertório existente (SKINNER, 1989).
A terapia comportamental é a aplicação do conjunto de conhecimentos psicológicos, adquiridos segundo os princípios da metodologia científica, à compreensão e solução de problemas clínicos. Assim, é uma prática de ajuda psicoterápica baseada na ciência e na filosofia caracterizada por uma concepção naturalista e determinista do comportamento humano.
Pode ser conceituada também por um processo de aplicação de princípios da teoria da aprendizagem para a melhoria de comportamentos específicos e, simultaneamente, de avaliação de quaisquer modificações observadas, analisando se elas são de fato atribuíveis ao processo de aplicação e, em caso positivo, a que parte desse processo (BOUCHARD, 1979 apud Saffi, Savoia e Lotufo, 2008).
Para fecharmos esse tópico falaremos mais um pouco sobre o trabalho do terapeuta comportamental. O primeiro passo é o bom relacionamento com o paciente, por meio da empatia, do interesse, do calor humano e de outras qualidades do psicoterapeuta (SAFFI, SAVOIA E LOTUFO, 2008).
Ele deve fazer a coleta de informação por meio da anamnese, do uso de diários, de escalas, de instrumentos diagnósticos e da observação para que se permita conhecer a pessoa e seus problemas.
A análise funcional é a ferramenta para a coleta de informações e para o conhecimento da relação entre a pessoa e seu ambiente.
Por meio dela procura-se estabelecer todas as relações de contingências que afetam a pessoa procurando-se descrever operacionalmente o problema, detalhando os estímulos desencadeantes, os comportamentos envolvidos e as suas consequências.
Sintetizando tudo que já dissemos, podemos frisar que o terapeuta comportamental focaliza-se no comportamento manifesto, salientando de acordo com Kaplan e Sadock (2003), a remoção de sintomas manifestos, sem considerar as experiências privadas ou conflitos internos do paciente. Percebemos que o objetivo terapêutico de quem segue essa abordagem é claro e concreto: a extinção de hábitos ou atitudes mal-adaptativas e sua substituição por padrões novos, apropriados e não provocadores de ansiedade.
Os métodos inerentes às terapias do comportamento fundamentam-se na crença fundamental de que as ansiedades e os comportamentos persistentes e mal-adaptativos foram condicionados ou aprendidos. Portanto, o tratamento efetivo consiste de variadas formas de descondicionamento ou desaprendizagem, isto é, o comportamento inadequado aprendido pode ser desaprendido.
2.3 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES
A terapia comportamental pode ser indicada e útil para tratar praticamente todos os problemas de saúde e de comportamento de atuação do psiquiatra ou do psicoterapeuta, como:
- Fobias específicas;
- Agorafobia com ou sem pânico;
- Fobia social;
- Transtornos de ansiedade;
- Transtorno obsessivo-compulsivo;
- Disfunções sexuais: em especial ejaculação precoce e vaginismo;
- Dificuldade de relacionamento interpessoal;
- Reabilitação de doentes crônicos;
- Depressão;
- Transtornos alimentares;
- Problemas de comportamento na infância;
- Problemas de comportamento na adolescência;
- Abuso de dependência de álcool e drogas;
- Autoconhecimento.
Cordioli (2008) cita que a terapia comportamental é também utilizada como coadjuvante no tratamento de:
- Depressão maior, particularmente na fase inicial de pacientes gravemente deprimidos;
- Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade;
- Estresse pós-traumático;
- Transtornos de impulsos: Tricotilomania, comprar compulsivo e jogo patológico;
- Déficits de habilidades sociais: transtornos de personalidade, esquizofrenia, deficiências mental e autismo;
- Deficiência de controle esfincteriano;
- Obesidade;
- Hipertensão;
- Insônia e insônia primária;
- Asma;
- Dor crônica;
- Cefaleia, etc.
Cordioli (2008) também cita algumas contraindicações na terapia comportamental:
→ Níveis de ansiedade muito elevados ou incapacidade de tolerar aumento dos níveis de ansiedade (transtorno da personalidade borderline, histriônica);
→ Problemas caracterológicos graves, incapacidade de estabelecer um vínculo com o terapeuta (personalidade esquizoide ou esquizotípica);
→ Incapacidade de estabelecer um relacionamento honesto com o terapeuta (personalidade antissocial);
→ Ausência de motivação
2.4 TÉCNICAS DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
De acordo com Knapp (2004), todos os experimentos comportamentais têm um elemento cognitivo e a modificação das distorções cognitivas se dá também por meio das técnicas comportamentais.
Padesky (1994 apud KNAPP, 2004) afirma que a forma mais eficaz de modificar principalmente pressupostos e regras subjacentes é por meio de experimentos comportamentais, assim o paciente experimenta na prática o que acontece quando ele se engaja em comportamentos, que permitem examinar a veracidade e/ou utilidades dessas crenças subjacentes.
Leahy (1996 apud KNAPP, 2004) diz que o objetivo dessas técnicas ou intervenções comportamentais é aumentar o comportamento positivo enquanto diminui o negativo, sendo assim pode-se dizer que o engajamento em um comportamento que traz resultados positivos aumenta a autoeficácia do indivíduo e estimula o empenho em novos comportamentos mais adaptativos.
A seguir algumas técnicas.
→ Alvos comportamentais
Segundo Rangé (2004), nessa técnica o terapeuta ajuda o paciente a identificar possíveis comportamentos específicos que deseja modificar a curto, médio e longo prazo. Esse autor cita alguns exemplos para ficar mais claro:
- O engajamento em exercícios físicos;
- As tarefas de casa concluídas;
- O número de páginas de leitura diária;
- A diminuição da checagem obsessiva;
- A lavagem das mãos.
No caso de haver grandes alvos comportamentais, de difícil execução de uma só vez, devem ser divididos em pequenos comportamentos de mudança, até que o comportamento como um todo se modifique.
→ Dessensibilização sistemática
Essa técnica foi criada por Joseph Wolpe, e baseia-se segundo Kaplan e Sadock (2003), no princípio comportamental do contracondicionamento, o qual afirma que o indivíduo pode superar a ansiedade mal-adaptativa provocada por uma situação ou objeto aproximando as situações temidas gradualmente, em um estado psicofisiológico que iniba a ansiedade.
Nessa técnica, o cliente é treinado a relaxar, é colocado em contato com uma hierarquia de situações geradoras de ansiedade e é solicitado a relaxar enquanto imagina cada uma delas, assim o paciente atinge um estado de completo relaxamento, quando é exposto ao estímulo que provoca a resposta de ansiedade.
Nesse caso, a reação negativa de ansiedade é inibida pelo estado de relaxamento, num processo chamado de inibição recíproca.
Em vez de utilizar as situações ou objetos reais que provocam medo, paciente e terapeuta preparam uma lista graduada ou uma hierarquia de cenas provocadoras de ansiedade associadas aos medos do paciente. Finalmente, o estado aprendido de relaxamento e as cenas provocadoras de ansiedade são sistematicamente pareados ao tratamento.
Percebemos que a dessensibilização sistemática consiste então de três etapas: treino de relaxamento, construção de hierarquia e dessensibilização do estímulo.
Semelhante à dessensibilização, exceto pelo fato de que o cliente realmente experimenta cada situação.
→ Exposição com prevenção de respostas
Confrontar uma situação ou estímulo temido.
Exemplo: o paciente obsessivo-compulsivo é instigado a refrear a lavagem de suas mãos após mergulhá-las em água suja.
→ Flooding ou Inundação
É uma modalidade de exposição in vivo em que um indivíduo fóbico é exposto ao objeto ou situação mais temido por um período prolongado sem oportunidade de fugir.
→ Reforçamento seletivo
Reforço de comportamento específico, muitas vezes, mediante o uso de fichas que podem ser trocadas por recompensas.
→ Modelagem
Segundo Atkinson (2002), consiste em reforçar somente variações de respostas que se desviam na direção desejada pelo experimentador. Na técnica de modelagem “o terapeuta modela a resposta/comportamento que se deseja” (RANGÉ, 2004), ou seja, ele reforça apenas os comportamentos desejados.
→ Modelação (imitação)
É o processo pelo qual uma pessoa aprende comportamentos observando e imitindo os outros. É um método bastante eficaz de mudança de comportamento, pois uma vez que observar os outros é uma das principais formas humanas de aprender, assistir pessoas que estão apresentando comportamento adaptativo ensina melhores estratégias de enfrentamento às pessoas com respostas inadaptativas.
A modelação é eficaz na superação de medos e ansiedades porque oferece uma oportunidade para observar outra pessoa passar pela situação geradora de ansiedade sem se ferir.
Exemplo: O terapeuta emite comportamentos assertivos durante a sessão que podem ser copiados pelo cliente e reproduzidos.
→ Ensaio comportamental
Nessa técnica o paciente dramatiza o comportamento que planeja conduzir fora da terapia.
Exemplo: O paciente pode demonstrar como ser assertivo mediante um diálogo com seu chefe.
→ Hierarquia de respostas/estímulos
Nessa técnica, tem-se uma lista de situações ou respostas, das mais temidas até as menos temidas, para serem usadas em exposição.
Exemplo: o paciente e o terapeuta fazem uma lista de situações ou comportamentos que o primeiro teme, com hierarquia de temor. O paciente fóbico de elevador coloca “pensar em elevador” como a menos temida e “subir de elevador o edifício mais alto da cidade” como a mais temida.
→ Autorrecompensa
De acordo com Knapp (2004), é usar autoelogio, gratificações e reforços concretos para incrementar comportamentos desejáveis.
Exemplo: o paciente pode se recompensar com consequências positivas tangíveis (uma comida, um filme, um presente ou um comportamento prazeroso) ou com autoafirmações positivas (“estou orgulhoso de mim mesmo por tentar”).
→ Treinamento de Relaxamento
Relaxar diferentes grupos musculares em sequência, imaginar figuras relaxantes, praticar exercícios de respiração.
→ Reforço
Para Skinner, segundo Myers (1999), recompensa é representado pela palavra “reforço”, que pode ser conceituada como qualquer evento que aumente a frequência de uma reação precedente. Assim, o reforço pode abranger uma série de ações, como um elogio ou uma salva de palmas. Existem dois tipos básicos de reforço, o positivo e o negativo.
- Reforço positivo: O reforço positivo é capaz de fortalecer uma reação quando oferece um estímulo logo após esta reação.
Ele aumenta a probabilidade de um comportamento pela presença (positividade) de uma recompensa (estímulo).
Ex. 1: comportamento de estudar bastante é reforçado pelo estímulo reforçador de se receber uma boa nota, de modo que a boa nota é um reforço positivo.
Ex. 2: desligar o telefone durante uma conversa desagradável retirará do ambiente um estímulo aversivo, que é a conversa, de modo que desligar o telefone é um reforço negativo.
→ Punição
A punição é um estímulo aversivo que reduz a probabilidade do comportamento. A punição pode ser positiva e negativa:
- Punição Positiva: Inseri-se no ambiente um estímulo aversivo:
Ex: um puxão de orelha.
- Punição Negativa: Retirada de um estímulo reforçador do ambiente:
Ex: proibição de assistir televisão.
→Terapia aversiva
De acordo com Kaplan e Sadock (2003), técnica prega que quando um estímulo nocivo (punição) é apresentado imediatamente após uma resposta comportamental específica, esta acaba sendo inibida ou extinta. Assim, existem muitos tipos de estímulos aversivos como:
• Choques elétricos;
• Substâncias que induzem vômito;
• Punição corporal;
• Reprovação social, etc.
A terapia aversiva tem sido usada no tratamento de vários transtornos, dentre eles:
- Abuso de álcool;
- Parafilias;
- E outros comportamentos com qualidades impulsivas e compulsivas.
Muitos terapeutas a contestam, dizendo que ela é controvertida. Um exemplo é que a punição nem sempre leva à diminuição esperada na resposta e pode, às vezes, ser positivamente reforçadora.
2.5 CONCEITOS BÁSICOS
→ Condicionamento respondente
De acordo com Skinner (1987), diz respeito ao reflexo condicionado de Pavlov, que prepara o organismo para reagir a um ambiente ao qual apenas o indivíduo é exposto.
→ Estímulo não condicionado
De acordo com Atkinson (2002), é um estímulo que automaticamente provoca uma resposta, normalmente por intermédio de reflexo, sem condicionamento prévio.
→ Resposta não condicionada
Resposta originalmente dada a um estímulo não condicionado, usada como base para estabelecer uma resposta condicionada a um estímulo anteriormente neutro.
→ Estímulo condicionado
Estímulo anteriormente neutro que passa a gerar uma resposta condicionada por meio de associação com um estímulo não condicionado.
→ Resposta condicionada
A resposta aprendida ou adquirida a um estímulo que originalmente não provoca resposta, ou seja, um estímulo condicionado.
→ Comportamento operante
Nesse tipo de comportamento novas respostas podem ser fortalecidas – reforçadas – por eventos que as seguem imediatamente.
→ Aprendizagem social
Processo de aprendizagem no qual um indivíduo muda seu comportamento em função de observar, ver ou ler a respeito do comportamento de outro indivíduo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário