O início do uso é marcado por vários fatores. Podemos
ressaltar que em uma família onde os pais são usuários de álcool é provável que
os filhos se façam também usuários. A criança aprende por observação e
repetição, dessa forma, a criança que no seu cotidiano tem os seus pais fazendo
uso do álcool cria uma crença de que álcool é bom e se seu pai que é o
representante da lei e da ordem bebe, então este exemplo deve ser seguido e, da
mesma forma, a mãe que costuma fazer uso de bebida alcoólica é um poderoso
agente influenciador, haja vista que, na maioria das vezes, é ela que passa a
maior parte do tempo com a criança.
Dr. Alberto During,
Médico do Conselho Estadual
de Entorpecentes, Ex-Diretor do Hospital Central da PMERJ, relata em outras palavras
que no século passado a origem do alcoolismo estava na esfera
ético-moral, com isto, o tratamento limitava-se a lições de moral, bons
conselhos ou exortações de cunho religioso, cujos resultados eram sempre
precários.
Depois da publicação das obras de Freud, diz o Dr. Alberto During,
muitos profissionais começaram a situar a doença primária do alcoolismo na
esfera psíquica. A origem do problema estaria em algum conflito na
personalidade ou um trauma profundamente escondido no inconsciente, dessa forma,
o tratamento era colocar o paciente no divã e analisá-lo, buscando razões que o levaram a beber
descontroladamente.
Quando se percebia que o doente era pobre, morador da
favela, ganhando salário-mínimo e com família numerosa, acreditava-se que ele
bebia somente para esquecer.
Dessa forma, a origem do alcoolismo, estava somente
associada à área psíquica, social ou ético-moral. Contudo, tem sido observado
que os pacientes começam a beber sem problemas e, com o passar do tempo, uma
série de fenômenos, tais como das enzimas que tem no fígado ou uma adaptação de
seus neurônios ao álcool, acabam se tornando alcoólatras.
Estas enzimas, conforme o relato de During, numa
primeira etapa, transformam o álcool em um composto bastante tóxico, o
acetaldeído, responsável pelas famosas ressacas. As pessoas com um fígado rico
destas enzimas decompõem rapidamente o álcool que não tem tempo de fazer muito
efeito- bebem bastante e se embriagam pouco- com grande tolerância ao álcool.
Estes são os candidatos a futuros alcoólicos.
No cérebro de algumas pessoas, o acetaldeído formado no
fígado, ao ser transportado pelo sangue até células nervosas, é capaz de se
combinar com diversos neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina, dando
origem a substâncias denominadas tetrahidroisoquinolinas, TIQs.
A neuroquímica do cérebro alcoólico não se resume à
fabricação de TIQs, reforça Dr. Alberto During, mas ocorrem também mudanças na
membrana celular dos neurônios, com isto, algumas pessoas que consomem álcool
acabam tendo seus neurônios adaptados a ele, sendo assim, no início um pequeno
número de neurônios muda a forma, depois outros e mais outros - até que todos
os neurônios tornam-se “alcoólicos”.
Após a abstinência noturna, ao acordar, com os neurônios
excitados, o alcoólico está nervoso, trêmulo, inquieto, ansioso, com pulso
acelerado. A normalidade só voltará quando beber uma dose. Imaginemos um
alcoólatra sentindo necessidade de tomar uma dose as 05:00h para sair da
abstinência, neste caso o álcool passou a ter papel preponderante em sua vida,
já que, para sentir-se normal, depende quimicamente dele.
Com as várias negações, explicações e fantasias típicas
da doença, surge o comprometimento psíquico ou comportamental- é a dependência
emocional. Neste momento passa a chamar a atenção como doente, apesar do início
do processo ter ocorrido muitos anos atrás.
Reginaldo Silva de Lyra
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