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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

3.03 O início do uso, a duração da problemática e as dificuldades para vencer o vício- O ALCOOLISMO E A FUGA DA REALIDADE; uma abordagem Cristã e Psicanalítica; DISSERTAÇÃO- PSICOLOGIA PASTORAL




O início do uso é marcado por vários fatores. Podemos ressaltar que em uma família onde os pais são usuários de álcool é provável que os filhos se façam também usuários. A criança aprende por observação e repetição, dessa forma, a criança que no seu cotidiano tem os seus pais fazendo uso do álcool cria uma crença de que álcool é bom e se seu pai que é o representante da lei e da ordem bebe, então este exemplo deve ser seguido e, da mesma forma, a mãe que costuma fazer uso de bebida alcoólica é um poderoso agente influenciador, haja vista que, na maioria das vezes, é ela que passa a maior parte do tempo com a criança.
            Dr. Alberto During, Médico do Conselho Estadual de Entorpecentes, Ex-Diretor do Hospital Central da PMERJ, relata em outras palavras que no século passado a origem do alcoolismo estava na esfera ético-moral, com isto, o tratamento limitava-se a lições de moral, bons conselhos ou exortações de cunho religioso, cujos resultados eram sempre precários.
Depois da publicação das obras de Freud, diz o Dr. Alberto During, muitos profissionais começaram a situar a doença primária do alcoolismo na esfera psíquica. A origem do problema estaria em algum conflito na personalidade ou um trauma profundamente escondido no inconsciente, dessa forma, o tratamento era colocar o paciente no divã e analisá-lo,  buscando razões que o levaram a beber descontroladamente.
Quando se percebia que o doente era pobre, morador da favela, ganhando salário-mínimo e com família numerosa, acreditava-se que ele bebia somente para esquecer.
Dessa forma, a origem do alcoolismo, estava somente associada à área psíquica, social ou ético-moral. Contudo, tem sido observado que os pacientes começam a beber sem problemas e, com o passar do tempo, uma série de fenômenos, tais como das enzimas que tem no fígado ou uma adaptação de seus neurônios ao álcool, acabam se tornando alcoólatras.
Estas enzimas, conforme o relato de During, numa primeira etapa, transformam o álcool em um composto bastante tóxico, o acetaldeído, responsável pelas famosas ressacas. As pessoas com um fígado rico destas enzimas decompõem rapidamente o álcool que não tem tempo de fazer muito efeito- bebem bastante e se embriagam pouco- com grande tolerância ao álcool. Estes são os candidatos a futuros alcoólicos.
No cérebro de algumas pessoas, o acetaldeído formado no fígado, ao ser transportado pelo sangue até células nervosas, é capaz de se combinar com diversos neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina, dando origem a substâncias denominadas tetrahidroisoquinolinas, TIQs.
A neuroquímica do cérebro alcoólico não se resume à fabricação de TIQs, reforça Dr. Alberto During, mas ocorrem também mudanças na membrana celular dos neurônios, com isto, algumas pessoas que consomem álcool acabam tendo seus neurônios adaptados a ele, sendo assim, no início um pequeno número de neurônios muda a forma, depois outros e mais outros - até que todos os neurônios tornam-se “alcoólicos”.
Após a abstinência noturna, ao acordar, com os neurônios excitados, o alcoólico está nervoso, trêmulo, inquieto, ansioso, com pulso acelerado. A normalidade só voltará quando beber uma dose. Imaginemos um alcoólatra sentindo necessidade de tomar uma dose as 05:00h para sair da abstinência, neste caso o álcool passou a ter papel preponderante em sua vida, já que, para sentir-se normal, depende quimicamente dele.
Com as várias negações, explicações e fantasias típicas da doença, surge o comprometimento psíquico ou comportamental- é a dependência emocional. Neste momento passa a chamar a atenção como doente, apesar do início do processo ter ocorrido muitos anos atrás.

                                                                                                                Reginaldo Silva de Lyra

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