Ansiedade, desejo de autocompensação, culpa,
dificuldade de lidar com os próprios medos e autossabotagem podem ser tão
prejudiciais à vida financeira quanto as incertezas do mercado
setembro de 2015
Gláucia Leal

Fala-se muito dele, preocupa-se demais com ele – ou com sua falta.
Sem dúvida há aspectos práticos envolvidos na questão, mas grande parte de
nossas angústias nessa área está vinculada à forma como nos relacionamos com o
dinheiro e com os ideais de satisfação que projetamos nele – e não com nossa
conta bancária em si. Por artimanhas do psiquismo, nos apegamos à ideia
equivocada de que ter mais necessariamente nos tornará satisfeitos – e
tendemos a confundir ter com ser e o preço das coisas com seu valor. Mas,
afinal, que poder quase mágico é esse que atribuímos ao dinheiro? O que é muito
ou pouco?
Há alguns anos, o psicólogo venezuelano Axel
Capriles, autor de Dinheiro – Sanidade ou loucura (Axis Mundi,
2005), causou algum impacto ao declarar que “o dinheiro é o novo sexo”,
justificando que há muito mais loucuras e doenças associadas ao vil metal do
que à vida sexual. Embora não tenha dado especificamente à moeda a mesma ênfase
que conferiu aos relacionamentos tanto consigo mesmo como com o outro, Freud
não deixou de apontar o seu papel na mente e no comportamento humano.
Na teoria freudiana, a relação com o dinheiro está
ligada aos primeiros anos de vida, quando a criança aprende que pode “negociar”
o afeto da mãe – o que influencia a forma como a pessoa vai lidar com sua vida
financeira no futuro. A maneira como nos relacionamos com o que temos, com o
que desejamos e com o que tememos perder não é determinante de um tipo de
personalidade, talvez ofereça pistas a respeito de quadros psicológicos. Uma
neurose obsessiva pode se manifestar por meio da avareza, por exemplo, assim
como o esbanjamento compõe, em certos casos, características da histeria ou de
quadros patológicos de mania. A socióloga Glória Maria Garcia Pereira,
autora de As personalidades do dinheiro(Campus, 2005, esgotado),
ressalta que há padrões de personalidade inconscientes que determinam nossa
relação com o dinheiro e argumenta que uma das chaves para não sofrermos com a
ciranda financeira é descobri-los.
De fato, ansiedade, desejo de
autocompensação, culpa, dificuldade de lidar com os próprios medos e
autossabotagem podem ser tão prejudiciais à vida financeira quanto as
incertezas do mercado. Muitos usam o poder aquisitivo para compensar
sentimentos de insegurança e solidão e só se sentem bem (ainda que
provisoriamente) se puderem comprar o que pretendem na hora que querem. Que
atire a primeira pedra quem nunca correu para o shopping para afogar as mágoas
e saiu de lá com uma sacola de coisas das quais não precisava? Ou quem jamais
teve a sensação de não merecer algo que lutou tanto para conseguir? Nas páginas
seguintes, três artigos tratam dessa delicada relação entre dinheiro e
psiquismo. Depois de lê-los, talvez você nunca mais confira seu saldo –
qualquer que seja ele – da mesma maneira.
http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/entre_o_ter_e_o_ser.html
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