A problemática levantada “Como dar conta das questões relevantes da vida sem precisar recorrer à bebida alcoólica?” confrontada com o tema “O ALCOOLISMO E A FUGA DA REALIDADE; UMA ABORDAGEM CRISTÃ E PSICANALÍTICA” nos remete a responder, ainda que provisoriamente, que quando o homem não consegue desvencilhar-se das tribulações e entra num sofrimento psíquico, sente a necessidade de aliviar esta tensão.
7.1 Análise Primária
Quando o homem é compulsivo e teve um fraco desenvolvimento psicossexual, sente necessidade de recorrer a recursos que aliviem sua tensão. A psicanálise faz uma regressão com o paciente ao seu passado, desconstruindo suas crenças e reconstruindo uma base mais realista, além disso, a teologia aponta para uma vida melhor, pautada na fé no Senhor Jesus, soberano e poderoso para libertação através da sua Palavra.
7.2 Análise Secundária
Uma pessoa compulsiva sente-se irresistivelmente atraída a executar um ritual que alivie a sua tensão, dessa forma, desenvolve sua maneira particular de alívio. Associando àquela compulsão ao fator específico de alívio de tensão fixado na fase oral, podemos afirmar que este adulto inconscientemente alivia-se colocando algo na boca... tal experiência de alívio ele já vivenciara no passado e com isto criou a crença de ter conseguido alívio toda vez que repetia o ritual.
A bebida alcoólica tem como particularidade fazer com que seu usuário necessite de dosagem cada vez mais forte para produzir a mesma sensação de alívio ( fuga da realidade ). Ora, a psicanálise cuida ter como base do seu trabalho a fala, isto é, a cura pela palavra. Dessa forma, conduzir o paciente conscientemente a origem inconsciente da sua dependência pode por si só tirá-lo do vício. Relembrando que recorrer ao vício se dá pelo medo de enfrentar a realidade, com isto, propomos além da psicanálise a fé, pois acreditamos que o homem quando consegue vislumbrar uma possibilidade de resolver a questão do seu sofrimento, tem mais energia e esperança num futuro melhor. A bíblia fornece várias promessas de uma vida de vitória e prosperidade e a fé começa a ser gerada e a possibilidade de um amanhã melhor começa a se tornar realidade. Com isto ocorre o aprendizado de que a fé liberta dos vícios através da mudança das cognições.
7.3 Analisando a Base Sociológica
O alcoolismo afeta a vida social, assim, verifica-se o impacto sobre a família, tanto no que diz respeito às questões emocionais quanto ao custo financeiro. Haverá um aprofundamento na análise dos fatores de maior influencia no surgimento do vício. Contudo, podemos antecipar que existem autores que mencionam o aparecimento do vício em primeiro lugar e depois as consequências, dessa forma, as consequências pós-vício são reais e aceitas, mas não podemos negligenciar os fatores externos causadores dos vícios. Não há justificativa para o apelo ao álcool, mas o desemprego tem levado chefes de família a um estado de desespero.
O cidadão hoje tem o auxílio desemprego, mas isto é coisa nova e tempo determinado para ser usufruído. No passado quando as portas de emprego não se abriam o desespero levava alguns a se consolarem com uma garrafa de cachaça, fazendo assim, pensavam que podiam viver outra realidade e esquecendo-se do mundo real.
Mas não é só o desemprego. A criação também propiciava o surgimento do alcoolista, pois os lares onde todos bebiam era comum criancinhas experimentarem um gole de cerveja, molhava-se a chupeta no vinho e até na cachaça para a criança não “aguar”. Quando um adolescente não bebia bebida forte era símbolo de fraqueza.
Poderíamos dizer, também, que não havia um interesse de mudar a concepção recebida da família, pois a estratificação ainda continuva valendo... Famílias de carpinteiros, de pintores, de desocupados, de cachaceiros. A manutenção dessas castas deveria ser rígida. Não raro ouvi-se dizer que na família tinha “um diferente” e a pressão se multiplicava para que este se tornasse “igual”, alcoólatra.
Este paradigma tem sido quebrado em função da informatização que tem levado o conhecimento as várias camadas da sociedade e, com isto, os jovens percebem que estão desobrigados de seguirem um pensamento autodestrutivo como este. Não é citado isto isolando o alcoolismo nas camadas mais baixas da sociedade, pelo contrário, este pensamento é comum nas demais classes sociais. Há de se mencionar também que às vezes a mudança de nível social, notoriamente descendente, faz com que as pessoas, não suportando tal demanda, experimentem a fuga para o álcool.
A psicologia social diferente da sociologia estuda o homem e seu comportamento em interação com o grupo social; isto justifica o entendimento do porque do homem repetir os atos do seu meio social. Com esta visão podemos justificar a necessidade de uma abordagem psicossocial haja vista que o homem será fruto do seu meio; até que suas cognições sejam alteradas e ele tenha uma visão menos voltada para o coletivo. Partindo dessa premissa podemos através da Terapia Cognitiva-comportamental mudar o pensamento desse sujeito, fazendo pensar em si e não no grupo ( alcoólatra ) no qual está inserido.
O alcoolismo é uma das principais causas de conflitos familiares, pois o dependente foge da sua personalidade, o que faz com que todos os membros da família sofram. O que fazer para vencer esta situação? Diante de tal questionamento o Dr. Paulo responde:
Alguns especialistas no assunto advertem que o uso abusivo do álcool pode proporcionar graves conflitos familiares, tornando a família também dependente do álcool. A primeira tentativa seria que outros familiares convencessem o viciado a uma série de tratamentos, nos quais, a família também pudesse participar. Nos últimos tempos, vem se destacando a psicoterapia familiar, pois trata não somente o dependente, mas também seus familiares. Existem outros tipos de tratamento, como o A.A., grupos de autoajuda, etc., que também, associados à psicoterapia, podem ajudar o viciado.
7.4 Analisando a Base Teológica
Faremos, ainda, uma contraposição à ideia de que a bíblia se cala quanto ao uso da bebida fermentada.
Usando a Bíblia como regra de prática e fé entendemos facilmente que não podemos nos embriagar porque isto é uma contradição, pois a embriagues se enquadra como obra da carne em contraposição ao Fruto do Espírito ( Gl 5:19-23). Não podemos perder de vista que sem a santidade ninguém verá o Senhor e a obra da carne anula a santificação. Em efésios o Apóstolo Paulo orienta a encher-se do Espírito e não se embriagar com vinho.
Na primeira epístola aos coríntios é apresentada a lista dos que ficarão de fora do Reino de Deus. Temos também a ideia de que Deus, de acordo com o livro de Gênesis, fez o homem para dominar sobre toda criatura, no entanto, como alguém sob os efeitos do álcool, sem consciência de quem é pode dominar sobre alguma coisa?
Então notamos que o bom cristão não é movido pela bebida alcoólica, alias a Bíblia é cheia de exemplos de homens que sofreram as consequências do uso indevido da bebida. Mas se alguns recorrem a ela, podemos deduzir que existe uma fraqueza espiritual, pois a orientação é não beber; o infrator coloca em risco o que tem de mais precioso que é a salvação
da sua alma. Se um cristão recorre conscientemente à bebida alcoólica para estabelecer um nível maior de felicidade ou desviar sua mente dos problemas está mostrando que sua fé é muito fraca e necessita de “bengala”, pois é entendido que a nossa alegria é saber que temos os nossos nomes escritos no Livro da Vida e que o choro pode até durar uma noite inteira, mas a alegria vem pela manhã.
O Espírito Santo propicia a alegria, pois a esperança do justo é alegria e quem justifica o cristão é o Senhor. Quem bebe para esquecer os problemas está fugindo da realidade, pois no livro de salmos existem as promessas do próprio Deus de ser o refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angustia, dessa forma, o que temer? Refugiar-se na bebida é falta de fé no Deus Onipotente. A Bíblia Sagrada diz, ainda, que devemos lançar sobre o Senhor todas as nossas ansiedades porque ele tem cuidado de nós. Deixar de confiar no Senhor para recorrer à bebida é apostatar da fé; a salvação está abalada e precisa rever sua concepção cristã.
Mas há quem defenda a maldição hereditária para justificar que bebe porque seus pais bebiam, contudo, se o Senhor libertar, verdadeiramente terá libertação. O grande problema é, no seu interior, parece que algumas pessoas fazem a opção por ficarem amarradas no passado deixando de ter uma vida nova e abundante no Senhor. É preciso tomar posse dessa benção e esquecer qualquer maldição, pois ninguém pode amaldiçoar a quem Deus já abençoou. Esse pensamento está ligado à autossugestão e deve ser repreendido em nome de Jesus.
E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito (Ef 5:18)- as Escrituras advertem repetidas vezes contra o álcool. Como na maior parte dos contrastes, há alguns pontos de comparação. Uma pessoa intoxicada com vinho age de maneira fora do natural no que é mau; uma pessoa cheia do Espírito Santo age fora do natural no que é bom.
Não estejas entre os beberrões de vinho, nem entre os comilões de carne ( Pv 23:20), esta palavra não se refere tanto ao beber habitual de um homem, mas principalmente ao beber da bebida forte. Delitzsch observa: "beber vinho ou qualquer outra bebida intoxicante".
Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente (Pv 23:31). Neste contexto podemos perceber a força que esta bebida exerce sobre o psiquismo. O vermelho chama a atenção e exerce um fascínio e tende a ficar mais tempo na memória visual.
7.5 Analisando a Base Psicanalítica
Tratar o tema “O ALCOOLISMO E A FUGA DA REALIDADE” na perspectiva psicanalítica é fazer uma regressão ao passado do paciente e buscar nos traumas, nas fixações e no desenvolvimento psicossexual os motivos da necessidade da fuga.
Há de se perceber que o psiquismo na infância não está totalmente desenvolvido e, com isto, notamos que para proteger o ego, entram em ação os mecanismos de defesa que fazem uma readaptação dos acontecimentos para o sujeito dar conta desse fator de desequilíbrio.
O Dr. Rômulo menciona, em seu Curso de Psicanálise Clínica, que Greenson cita Anna Freud e Fernichel para bem relacionar os motivos e mecanismos de defesa com os motivos e mecanismos de resistência, segue: (...) ao falar de motivo de defesa, estamos nos referindo àquilo que fez uma defesa ser ativada, a causa imediata é sempre a fuga de alguma emoção dolorosa como a ansiedade, a culpa ou a vergonha. Dessa forma, foge-se da realidade até de maneira inconsciente através dos mecanismos de defesa... sendo assim, acreditamos que o insight dessa teoria faz o paciente criar uma resistência contra o uso da bebida, pois ele agora, consciente, pode avaliar o porque do uso e decidir por não usar demonstrando uma maturidade psíquica.
7.6 Analisando os resultados das entrevistas
No site http://www.avalieseuconsumo.ufop.br/2013/02/04/teste-seu-consumo-do-alcool, notamos que as associações de Moradores de Repúblicas Federais (Refop) e de Repúblicas Reunidas de Ouro Preto (Arrop) apoiaram a campanha “Avalie seu consumo”, lançada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). A Campanha
permanente faz parte de estratégias da Universidade com o objetivo de promover mudanças no consumo de drogas lícitas e ilícitas, principalmente no meio universitário. Chama à reflexão e colaboração no processo de auto avaliação sobre o consumo de substâncias que causam dependência.
permanente faz parte de estratégias da Universidade com o objetivo de promover mudanças no consumo de drogas lícitas e ilícitas, principalmente no meio universitário. Chama à reflexão e colaboração no processo de auto avaliação sobre o consumo de substâncias que causam dependência.
Então, fazendo uso desse instrumento de 10 perguntas objetivas avaliamos e conscientizamos 22 pessoas quanto ao uso do álcool. Segue abaixo as perguntas com as suas respectivas alternativas:
IDADE_____ OCUPAÇÃO___________ SEXO______ ESCOLARIDADE_____________
1- Qual a frequência do seu consumo de bebida alcoólica?
(0) Nenhuma (1) Uma ou menos de uma por mês
(2) 2 a 4 vezes por mês (3) 2 a 4 vezes por semana
(4) 4 ou mais vezes por semana
2- Quantas doses você consome num dia típico quando você está bebendo?
(0) Nenhuma (1) 1 ou 2 vezes
(2) 3 ou 4 vezes (3) 5 a 6 vezes
(4) 7 a 9 vezes (5) 10 ou mais
3- Qual a freqüência que você consome 6 ou mais doses numa ocasião?
(0) Nunca (1) Menos que mensalmente
(2) Mensalmente (3) Semanalmente
(4) Diariamente
4- Com que frequência nos últimos doze meses, você percebeu que não conseguia parar de beber?
(0) Nunca (1) Menos que mensalmente
(2) Mensalmente (3) Semanalmente
(4) Diariamente
5- Quantas vezes nos últimos 12 meses você deixou de fazer o que era esperado devido ao uso de bebida alcóolica?
(0) Nunca (1) Menos que mensalmente
(2) Mensalmente (3) Semanalmente
(4) Diariamente
6- Quantas vezes no último mês você precisou de uma dose pela manhã para se sentir melhor depois de uma bebedeira?
(0) Nunca (1) Menos que mensalmente
(2) Mensalmente (3) Semanalmente
(4) Diariamente
7- Quantas vezes nos últimos 12 meses você se sentiu culpado ou com remorso depois de beber?
(0) Nunca (1) Menos que mensalmente
(2) Mensalmente (3) Semanalmente
(4) Diariamente
8- Quantas vezes nos últimos 12 meses você esqueceu o que aconteceu na noite anterior porque estava bebendo?
(0) Nunca (1) Menos que mensalmente
(1) Menos que mensalmente (3) Semanalmente
(4) Diariamente
9- Você já foi criticado pelos resultados de sua bebedeira?
(0) Nunca (1) Menos que mensalmente
(2) Mensalmente (3) Semanalmente
(4) Diariamente
10- Algum parente, amigo, médico ou outro profissional da saúde referiu-se às suas bebedeiras ou sugeriu parar de beber?
(0) Nunca (1) Menos que mensalmente (2) Mensalmente
(3) Semanalmente (4) Diariamente
Ao fazer uso de tal instrumento, com a ajuda da acadêmica de enfermagem Thailane da Conceição Ribeiro de Lyra, foram lançados valores, conforme as orientações desse instrumento de auto avaliação. No formulário foram somados os valores entre parênteses das opções escolhidas. Com a soma das 10 respostas conferimos em qual tipo de consumidor o entrevistado se enquadrou. É importante salientar que esta entrevista tem a finalidade de auto avaliação e conscientização. Sua utilidade nesta pesquisa é mostrar uma visão qualitativa dos resultados, sendo assim, o universo de entrevistados foi bem limitado. A pesquisa contemplou sem distinção entre homens e mulheres na faixa etária de 19 aos 49 anos, universitários, militares e funcionários de uma empresa de Telemarketing, obtendo os seguintes resultados:
ENQUADRAMENTO
|
%
|
PONTOS
|
Consumo de baixo risco ou abstêmios
|
50%
|
0 a 7 pontos
|
Consumo de risco
|
32%
|
8 a 15 pontos
|
Uso nocivo ou consumo de alto risco
|
5%
|
15 a 19 pontos
|
Provável dependência
|
14%
|
20 ou mais pontos
|
A tabela acima demonstra, guardadas as devidas proporções, o percentual provável do enquadramento dos bebedores que se intitulam de bebedores sociais. Os “Consumidores de Risco” representam aproximadamente 32% dos entrevistados; este número é alarmante neste universo até porque 41% dos entrevistados tem curso superior ou estão cursando. Isto reforça a ideia de que as universidades muitas vezes são pontos comuns de consumo de drogas. Outro
fato a ser percebido é que existe um fluxo de “consumidores de risco” para “consumidores de alto risco”. Há uma linha muito tênue entre os “consumidores de alto risco” e os dependentes, por isto percebemos apenas 5% na área de alto risco.
ENQUADRAMENTO
|
HOMEM
|
MULHER
|
Consumo de baixo risco ou abstêmios
|
14%
|
41%
|
Consumo de risco
|
23%
|
5%
|
Uso nocivo ou consumo de alto risco
|
5%
|
0%
|
Provável dependência
|
14%
|
0%
|
Como já era previsto em outras estatísticas, notamos que as mulheres ocupam uma fração de cerca de 1/5 em consumo de risco em relação aos homens e, considerando ainda o universo dos entrevistados, cerca de 41% do total dos entrevistados é de mulheres abstêmias ou de baixo risco de consumo. Fazendo uma análise mais precisa chegamos ao valor absoluto de 90% das mulheres abstêmias entre si e apenas 10% delas são enquadradas como consumidoras de risco.
Foram entrevistadas autoridades e recolhidos depoimentos de alcoolistas que deixaram o uso ativo para se tornarem alcoólatras “secos”, neste contexto não se faz presente a identificação dos entrevistados de Alcoólicos Anônimos- AA por causa da natureza anônima da instituição e também não aparece a identificação de outros representantes de instituições porque não deram respostas pessoais, mas institucionais. Já o Dr. Paulo Miguel Velasco e o Pastor Wagner Luiz Abreu responderam e testemunharam de forma pessoal, por isto autorizaram suas identificações através de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os apêndices trazem na íntegra os depoimentos e entrevistas, contudo fazemos menção a fragmento/item de maior relevância para abordagem da problemática levantada: “Como dar conta das questões relevantes da vida sem precisar recorrer à bebida alcoólica?” confrontada com o tema “O ALCOOLISMO E A FUGA DA REALIDADE; UMA ABORDAGEM CRISTÃ E PSICANALÍTICA”.
Na abordagem direta ao Dr. Paulo Miguel Velasco foi afirmado que o álcool é uma droga lícita e seu acesso facilitado. Então, a facilidade de acesso pode tornar esta droga mais poderosa que outras?
Quando o acesso é facilitado, qualquer droga se torna perigosa, principalmente, quando usada em longo prazo. De fato, o álcool é associado a quase 80 mil mortes em todo o planeta, de acordo com estudos da Organização Mundial da Saúde, e, ainda hoje, é a droga que mais causa óbitos no mundo.
Quando ele foi questionado sobre as questões sociais relacionadas diretamente com o alcoolista e sua família, observamos uma preocupação com a saúde física, mental e financeira. Ressaltou ainda a possibilidade de associação da pedofilia familiar com o uso do álcool e, além dessa violência, temos ainda a violência contra a mulher.
Naquilo que tange o alcoólatra e sua família, o uso de bebidas alcoólicas está associado às consequências negativas tanto daquele que bebe quanto de sua companheira e filho. Os danos do álcool ao alcoólatra e à família podem vir de diversas formas, seja pela saúde física e mental de seus membros, seja pela saúde financeira do lar. Ademais, o uso dessa substância pelos pais também está associado ao abuso de crianças e às repercussões negativas para o universo social, psicológico e econômico dos filhos. O dinheiro gasto com álcool pode desfalcar o orçamento doméstico de um lar carente de recursos financeiros, deixando os familiares à mercê da pobreza. Vale salientar também o surgimento de violência no lar e os acidentes domésticos em decorrência do uso de álcool no contexto familiar. Nota-se, assim, que o consumo de bebidas alcoólicas pode prejudicar a relação entre pais e filhos e entre marido e mulher, desgastando o bom funcionamento do lar como um todo.
Focando mais objetivamente a psicanálise interpretando alguém que opta pelo uso do álcool para fugir dos problemas, ele diz que a principal característica dessa personalidade mal estruturada é “ a incapacidade de tolerar frustrações” e nesta perspectiva o álcool funciona como “reativador de sentimentos prazerosos, de proteção e poder”. Dessa forma, coloca a psicoterapia como cooperadora na remissão da enfermidade após a desintoxicação, reforçando que diversas formas de psicoterapia lidam com os aspectos psicológicos inconscientes, proporcionando habilidades que previnem às recaídas estabelecendo estratégias gerais de mudanças no estilo de vida.
Admite-se a existência da relação entre compulsão e vício, sendo assim, o Dr. Paulo corrobora com este pensamento ao dizer que são coisas distintas, mas “a relação entre ambos existe, pois que, o vício é o propagador da compulsão”. A compulsão em bebidas alcoólicas (Binge Drinking) é um beber episódico, durante o qual uma grande soma de bebidas é consumida em um curto período de tempo.
Vejamos abaixo a resposta dele a pergunta direta: o quê é dependência química?
É uma condição física e psicológica causada pelo consumo constante de substâncias psicoativas. Devido a constante utilização desses tipos de drogas, o corpo humano torna-se cada vez mais dependente das mesmas, tendo como consequência sintomas que afetam o sistema nervoso. É uma doença crônica incurável: Uma vez dependente químico, sempre dependente, indiferente de estar ou não em recuperação.
A adição é mais que uma doença, ela envolve várias áreas da vida do alcoolista. Alguns estudiosos consideram apenas como uma fraqueza moral ou psicológica, mas existe uma reação química envolvida no processo de dependência e a partir desse prisma notamos que a dependência não é apenas psicológica ou uma simples falta de força de vontade; a dependência se aprofunda nas raízes bioquímicas do ser humano, dessa forma, não é apenas uma orientação que liberta a pessoa, até porque quando se tem abstinência diversas reações podem se desencadeadas e as “mais agressivas” são: Os distúrbios de percepção, convulsões e delirium tremens. A adição com relação ao alcoolista transcende até a visão física e moral; o Dr. Paulo diz:
No meu ponto de vista a adição tem sido destacada como uma fraqueza moral, falta de força de vontade, incapacidade para enfrentar o mundo, uma doença física e uma doença espiritual. Um indivíduo viciado não consegue controlar seu desejo pelo álcool. Os processos de adição no alcoolismo têm em comum: a perda de controle e uma procura desorientada pela integridade, felicidade, e paz de espírito através de um relacionamento com um objeto ou um evento.
Não podíamos deixar de registrar aqui um questionamento muito sério que diz respeito aos pais: “De que forma os pais contribuem para que seus filhos se tornem alcoólatras e qual seria o conselho para evitar esta enfermidade?”, contudo a resposta do Dr. Paulo, que é um homem da ciência, vai de encontro a do homem de fé que vê a possibilidade da igreja como instituição preventiva do alcoolismo.
Em estudo feito por mim em 2010 me fez concluir que as crianças e os jovens, na sua maioria, copiam seus pais em relação ao comportamento de beber, ou seja, os filhos seguem o exemplo do seu “super herói”. Os principais conselhos seriam: Primeiramente, alertar-lhes quanto ao malefício e o prejuízo que o álcool pode provocar, dando-lhes livros referentes ao assunto para que eles possam refletir quanto ao perigo que possivelmente possam ser acometidos, e, em segundo lugar, orientá-los a seguir uma religião cristã. Certamente, dentro de templos religiosos eles não terão acesso à bebida e serão aconselhados para que não caiam nessa armadilha.
O caráter multidisciplinar das entrevistas visa não apenas uma reafirmação de ideias pré-concebidas, mas, sobretudo, a busca das verdades estudadas pelas autoridades e as experiências adquiridas com a clínica ou terapêutica específica. Tendo em vista tal caráter, entrevistamos o Capelão Católico Militar e buscamos em sua concepção “O que é alcoolismo?”, dessa forma, notamos o predomínio da concepção dessa enfermidade como fator ético. Neste contexto fica acentuada a família como a primeira a buscar ajuda em prol do alcoolista que se encontra a mercê do álcool e sem vontade própria, incapaz de tomar a decisão acertada, com isto, comprometendo a terapêutica. Vejamos a seguir o posicionamento inicial do CAPELÃO:
Primeiramente precisamos considerar o alcoolismo como vício e este tem uma conotação ética; a doença em si não é uma questão ética é uma questão de saúde, biológica. A pessoa se introduziu ou se deixou introduzir no alcoolismo tornando-se dependente químico e para tratar necessita de uma decisão e uma decisão é sempre um fato ético; para o tratamento ser efetivo é indispensável uma adesão pessoal, desde suas estruturas mais profundas, que sejam espirituais, sociais e psicológicas; ele precisa dizer que quer se tratar. O acento maior dado na pastoral dá igreja é o acento ético porque as enfermidades em si não dependem da vontade, mas no caso do alcoolismo é diferente.
Diante da questão “Como se dá a primeira experiência com o alcoolismo, isto é, o que leva a pessoa ao alcoolismo, considerando também os fatores genéticos e sociais?” O Capelão respondeu de acordo com sua formação filosófica dizendo que “Esta é uma questão muito séria e não diz respeito só ao alcoolismo, mas também ao homossexualismo”. Discorrendo sobre o assunto mencionou que “Em estudo sobre antropologia havia uma abordagem a cerca das características genéticas dos criminosos e este tema sobre as características genéticas sobre os comportamentos das pessoas toca não somente o alcoolismo, mas o banditismo, o homossexualismo, até mesmo todas as atitudes que se tomam ao longo de toda vida.” A partir dessa premissa ele gerou uma série de questionamentos listados abaixo:
Estamos sujeitos a fatores expressamente biológicos ou somos sujeitos verdadeiramente livres?
Quer dizer que se tenho o gene do homossexualismo sou homossexual?
Se tenho o gene do banditismo sou bandido?
Se tenho o gene do alcoolismo sou alcoólatra?
Estas são questões profundas inclusive em relação a outros temas.
Se tenho um gene da falta da satisfação sexual serei inclinado a prostituição?
Estas questões são filosóficas: somos seres biológicos ou seres éticos?
Então após conduzir a entrevista a uma reflexão crítica da questão ele respondeu que “Somos seres que ainda que dotados de uma propensão genética somos também dotados de uma propensão biológica e fazemos nossas eleições de modo livre.” Dessa forma, diz o Capelão:
O cristianismo, mais que o catolicismo, sempre foi na direção de que nós somos seres livres; ainda que seja possível que a ciência comprove que há uma tendência genética ao homossexualismo ou ao alcoolismo nós acreditamos que o poder decisivo que fará a pessoa trilhar o caminho do homossexualismo ou alcoolismo será a sua vontade, fatores culturais e educacionais. Se uma pessoa nasce num ambiente voltado para o alcoolismo muito provavelmente ela terá tendências a se alcoolista, isto não é genética é fator cultural. É muito importante distinguir claramente o que é propensão genética, que a ciência tem discutido, do que é ético ( todos os fatores relacionados a liberdade humana). A questão das escolhas, pois muitas vezes somos afetados pelas escolhas dos outros, isto é, as escolhas dos outros antes de mim afetam as minhas escolhas. É possível alguém relatar que sempre foi homossexual e nasceu homossexual, logo a culpa é de Deus, dessa forma se agente nasceu assim porque Deus nos fez assim... Por trás destas argumentações pró-genéticas estão as ideologias que querem aniquilar a ética.
Com esta afirmação ele não nega que haja possibilidade de uma carga genética que faz o homem propenso a certa conduta, contudo ele não deixa de ser responsável pela sua conduta, até porque é livre e dotado de liberdade para escolher viver mesmo contrário a sua propensão.
Considerando os trabalhos do “AA” o alcoolista não deve ter contato com ex-amigos de bebedeira, precisa evitar os bares porque a qualquer momento pode voltar a beber, ele na verdade é um alcoólico seco. Dessa forma, foi feita uma pergunta bem objetiva: A terapêutica da Pastoral Católica prevê uma libertação total do adicto?
É difícil uma resposta pronta que atenda a todos os casos. Cada pessoa entra no mundo das drogas inclusive do alcoolismo por caminhos diferentes, algumas entram por força das pressões sociais, por causa dos amigos na adolescência, outros por causa da família, outros por motivação existencial por perda de um ente querido e, portanto, encontra-se depressivo e preso nas drogas, enfim, a origem é variada. O nível de afetação também é variável, dessa forma, algumas pessoas tem uma afetação superficial e consegue manter suas atividades sociais, mas tem aquelas que perdem a total noção da realidade e vão para as ruas e são incapazes de levar uma vida razoável. Com isto, para falar do processo de cura e de libertação, há de se pensar num processo personalizado. Deus pode realizar um milagre e restaurar absolutamente uma pessoa, mas existem aqueles que necessitam de acompanhamento terapêutico pelo resto da vida. Neste sentido não se descarta o milagre e também não desconsidera o fato de uma pessoa necessitar vivenciar o processo pelo resto da vida. Muitas vezes Deus cura completamente, em outras, com a decisão da pessoa, com a terapêutica, com a Graça de Deus e com a fé, aliados ao nosso cuidado Deus confia a nós esse processo construtivo e, com isto, conseguiremos fazer uma pessoa ter sucesso no seu tratamento, ainda que carregue a sua propensão ao alcoolismo.
Por fim, o capelão foi questionado quanto a família do adicto ao álcool. Ele falou da afetação dos familiares com o inicio do ódio e rejeição; além disso, outros fatores em interação também foram abordados tais como: o adoecimento de toda família, a estigmatizacão ( filho do bêbado, família do bêbado, mulher do bêbado) e também a relação “marido mulher” que fica doentia “onde a esposa incentiva o alcoolismo do marido por conta dele tornar-se um ausente e, com isto, ela podia ser o elemento central de controle das finanças e detentora de poder”.
Também foi entrevistada a COORDENAÇÃO DOS ALCOÓLICOS ANÔNIMOS DE SÃO GONÇALO (CAASG) que nos ajudou com respostas institucionais e valiosas. Nesta perspectiva perguntamos “Quais são as dificuldades que o “AA” têm para realizar suas tarefas?” e sem titubear a CAASG relatou que o “AA não tem dificuldades”, mas quem tem dificuldades é o próprio membro. Sendo assim, disse a coordenação:
A partir do momento que decide parar de beber ele ingressa na irmandade e declara-se membro. Se ele não aceitar que é um alcoólatra também não aceitará o tratamento. A dificuldade está no reconhecimento do problema e aceitar o tratamento, pois a partir do momento que ele admite que é alcoólatra, isto é, foi derrotado pelo álcool, a tendência é buscar tratamento.
O autocontrole do alcoolismo, disse a CAASG, ocorre com a aceitação do programa oferecido pelo AA. O “AA” dá um programa de recuperação que a pessoa acreditar, aceitar e seguir... Então, reforça, “Através do programa de recuperação a pessoa inicia o processo de controle do seu impulso, isto é, trata esta doença”. Outro ponto percebido durante a entrevista é que não existe uma estratégia quando o paciente para de frequentar as reuniões, mas “O AA espera a pessoa voltar voluntariamente, pois ele não obriga as pessoas”. Contudo fica claro que os integrantes sentido falta de um companheiro, podem procurar saber o motivo da ausência e fazer contatos para leva-lo de volta ao convívio da irmandade. Mas no caso de recaída, perguntou-se, o que o “AA” faz?
Procura-se conversar com o companheiro a fim de que o mesmo um dia torna-se constante; não há exclusão, sempre aceitamos o companheiro de volta e retoma-se o tratamento a partir do ponto em que ele parou.
O alcoolismo é uma das principais causas de conflitos familiares, pois o dependente foge da sua personalidade, o que faz com que todos os membros da família sofram. Neste caso existe o grupo AL-ANON ALANON para familiares e amigos do alcoólatra, mas a coordenação afirma que este grupo é independente do “AA” e foi criado a finalidade específica, até porque toda família fica adoecida e, se ele para de beber, às vezes volta por conta dos próprios familiares que não estavam preparados para nova situação. Assim foi perguntado se é possível ajudar um jovem que está iniciando no alcoolismo sem participar aos seus familiares e CAASG respondeu:
É possível, haja vista que são feitas reuniões de atendimento ao público. Temos o Comitê Trabalhando com o Outro ( CTO ) que faz a ponte com a comunidade e especialistas que divulgam o nosso trabalho por exemplo nas escolas e faculdades informando sobre a doença e com isto o jovem se estiver bebendo vai se identificar com a informação. Temos dificuldade de chegar na casa do jovem, mas fazemos isto divulgando as informações. Procura-se fazer a reunião fechada de forma que os assuntos permaneçam anônimos preservando a identidade de quem procura a instituição. Existem as reuniões abertas e as fechadas; as abertas são para os familiares e visitantes e as fechadas são para os membros.
Entrevistamos, também, a Coordenação Técnica do Centro de Atendimento Psicossocial- Álcool e outras drogas (CAPS-ad). Este centro recebe pacientes com transtornos decorrentes do uso de álcool e outras drogas. A estrutura do imóvel tem estilo residencial e precisa estar localizado em local de fácil acesso e conta com ambiente acolhedor e hospitaleiro para que o cliente se sinta bem e livre para voltar sempre que for necessário. Nesta perspectiva o alcoolista toma a característica e denominação de usuário. Percebe-se, ainda, o acompanhamento, o acesso universal e o acolhimento. Cada projeto terapêutico é individualizado para atender as necessidades do usuário.
Em entrevista, procurou-se entender o funcionamento deste CAPS ad, para tanto, a coordenação explicou que o funcionamento é de segunda-feira a sexta-feira de 08:00 às 17:00. É o único CAPS ad para atender toda cidade de Niterói; em São Gonçalo, Gradim, está em via de construção de um CAPS ad que ainda não está amplamente divulgado. Trabalha em parceria com: Hospital Psiquiátrico em Jurujuba, dois CAPS II, seis ambulatórios de Saúde Mental. O CAPS Ajuda as famílias na compreensão dos sintomas e recaídas. Faz o acompanhamento do uso dos medicamentos; trabalha com oficinas terapêuticas: Acordar o Corpo, Grupo de Teatro, Dedinho de Prosa, Notícias, Notas Musicais e Espaço Aberto ( Palestras, Discussões, Informações e a última sexta-feira do mês é aberta para o público em geral ); possui ainda atividades culturais extras CAPS (Grupo de Trabalho, Delícias de Convivências, Casa da Mulher; Tarde de Música, Aula de Percussão, Amigos passageiros); atendimento aos familiares e Redução de Danos como Política Nacional de saúde Mental.
Questionaram-se, ainda, quais eram os membros e suas funções, dessa forma, entendemos que os trabalhos ocorrem forma multiprofissional e não setorizados, há uma integralidade de atendimento. Nesta visão estão trabalhando em conjunto Psicólogos, Enfermeiros, Antropólogo, Farmacêutico, Arteterapeuta, Assistente Social e Psiquiatra.
Os históricos dos encaminhamentos dos usuários ocorrem pelo sistema portas abertas a comunidade; assim, são recebidos usuários via encaminhamento e pela divulgação do próprio usuário ou seus familiares. Este CAPS ad para cumprir suas funções, se relaciona com outros dispositivos da Saúde Mental da Rede, o trabalho isoladamente; existe uma interação com o Hospital Geral para os casos de abstinências e enfermidades dos usuários; há um diálogo com as clínicas de atenção básica; faz-se também o encaminhamento e acompanhamento médico-hospitalar; existe assistência psicossocial; há também um diálogo com agentes de saúde das Redes de família para ter acesso às localidades do território que estão mais distantes. A coordenação também se preocupou em informar os objetivos deste CAPS destacando: a prestação de assistência e acolhimento ao usuário de álcool e outras drogas; a promoção de cuidado e a redução de danos.

Quando o homem é compulsivo e tem um fraco desenvolvimento psicossexual, sente necessidade de recorrer a recursos que aliviem sua tensão. A psicanálise faz uma regressão com o paciente ao seu passado, desconstruindo suas crenças e reconstruindo uma base mais realista, além disso, a teologia aponta para uma vida melhor, pautada na fé no Senhor Jesus, soberano e poderoso para libertação através da sua Palavra.
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