A carta, expressão do momento histórico-literário do séc. XIV ao XVII, revela pela forma a cultura moderna humanista de Portugal. A transição do Trovadorismo para o Humanismo marcada pelo efeito imediato do desenvolvimento do comércio, dá nova dimensão ao homem medieval fechado no feudo. A transformação social implica uma nova descoberta: "a consciência de que o homem é uma forma criadora capaz de dominar o Universo ( como nos descobrimentos ) e transformá-lo".
As narrativas de origens cavaleirescas, a visão de que o ser humano é objeto de grande preocupação, é motivo de reflexão porque vive num contexto ausente de Deus segundo a cultura de Pero Vaz. Todas as características da época pesaram e podemos observá-las por diversos ângulos.
Havia necessidade de conquistar novas terras, descobrir caminhos economicamente mais viáveis, ou seja, a expansão econômica era o principal motivo daquela expedição, Notamos isto em vários segmentos da carta da qual as seguintes passagens:
... querendo dizer que daria ouro por aquilo. Nós assim o traduzíamos porque esse era o nosso desejo... e de lá até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma cousa de metal, nem de fer- ro, nem lho vimos.
No âmago do sentimento de Pero imperava a religiosidade, fruto de sua cultura. Tal religiosidade chegara ao ponto em que ele orienta ao rei que a melhor semente a ser lançada na terra é a salvação para aquela gente. Outro ponto a focar, ainda sobre a religiosidade, é quando ele fala com mais inocência que o próprio índio a respeito dos corpos e rostos por serem bons,a sua natureza também seria boa; julgando em sua limitação o interior pelo aspecto exterior. Essas observações deixa-nos suspensos, pois apesar da ênfase econômica, temos um teocentrismo latente e com ressalvas.
Apesar do teocentrismo, o choque cultural foi tão violento que durante a narração a descrição das vergonhas masculinas e femininas dão "quê erótico", demonstrando um verdadeiro fascínio do narrador.
É interessante ressaltar que os selvagens aqui encontrados eram tão mansos e obedientes que davam impressão que outrora tiveram algum contato com civilizados! Nicolau Coelho, no momento do contato, teve apenas um trabalho: deu sinal para que pousassem os arcos e eles assim o fizeram.
A conclusão que temos é que a Carta de Pero Vaz Caminha é um documento oficial que marca o nascimento do Brasil. Servindo como uma certidão de nascimento, ela faz menção a localização, a fauna, a característica geográfica e descreve de forma sucinta a respeito dos nativos da terra. mostrando o elemento de ligação da nossa literatura e seu fundador, Padre José de Anchieta.
Carta de Pero Vaz Caminha; Panorama Geral
Reginaldo Silva de Lyra,
São Pedro da Aldeia, 1998.
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